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POLÍTICA

PT mobiliza militância digital para pressionar cassação de Eduardo Bolsonaro

Ação coordenada envolve vídeos, memes e mensagens para redes sociais; Lindbergh Farias afirma que cassação será prioridade do partido no Congresso

1 agosto 2025 - 10h34Vinícius Valfré e Levy Teles
Lula e Hugo Motta durante reunião que tratou do projeto de lei que amplia isenção do Imposto de Renda; ao lado, a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais
Lula e Hugo Motta durante reunião que tratou do projeto de lei que amplia isenção do Imposto de Renda; ao lado, a ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais - (Foto: Wilton Junior/Estadão)

O Partido dos Trabalhadores (PT) intensificou sua mobilização política e digital para pressionar a cassação imediata do mandato do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), após a revelação de que o parlamentar teria atuado junto ao governo dos Estados Unidos para influenciar sanções econômicas contra o Brasil. A ofensiva da legenda inclui ações institucionais no Congresso e uma ampla campanha nas redes sociais, coordenada por entidades ligadas ao partido, como o Instituto Lula e a Fundação Perseu Abramo.

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A articulação ganhou força logo após o anúncio feito na quarta-feira, 30, pelo governo de Donald Trump da aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A norma, criada para punir violadores graves de direitos humanos, impôs ao magistrado sanções como o bloqueio de bens e a proibição de entrada nos Estados Unidos. A decisão provocou reação imediata da base do governo e gerou mais um episódio de confronto político com os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A militância petista foi acionada por meio de grupos de WhatsApp e redes sociais com instruções para “bombardear” os canais institucionais do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), com cobranças pela cassação de Eduardo Bolsonaro. Mensagens e vídeos prontos foram compartilhados massivamente com argumentos de que o deputado atuou contra os interesses nacionais.

“O próprio Trump confirmou: o tarifaço de 50% foi chantagem pra tentar salvar Bolsonaro da cadeia. E Eduardo Bolsonaro foi peça-chave nessa traição. Quem trabalha contra o Brasil não pode continuar no Congresso”, diz uma das mensagens replicadas pelos apoiadores do governo.

A ofensiva digital utiliza a mesma estrutura que foi mobilizada em campanhas anteriores do PT, como a da “justiça tributária”, e conta com peças gráficas produzidas com apoio de inteligência artificial. O conteúdo mistura narração política, imagens jornalísticas e falas de Lula, reforçando a acusação de que o filho do ex-presidente sabotou o país para proteger aliados envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro.

No plano institucional, o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), confirmou que a sigla priorizará a pauta da cassação de Eduardo Bolsonaro assim que o Congresso retomar suas atividades legislativas na próxima semana.

“A gente vai chegar nessa semana com pressão máxima para pedir a cassação de Eduardo Bolsonaro. O roteiro de antes era esperar ser cassado por falta, mas não podemos esperar que o mandato dele continue até o final do ano. Ele não pode continuar ameaçando a soberania nacional como deputado”, declarou Lindbergh.

Pedidos de cassação já foram apresentados no Conselho de Ética da Câmara, mas seguem pendentes de análise por parte do presidente da Casa. Até agora, Hugo Motta não se manifestou sobre as novas denúncias, mas, após o anúncio da sanção contra Moraes, afirmou que "não podemos apoiar nenhum tipo de sanção por parte de nações estrangeiras dirigida a membros de qualquer Poder constituído da República".

Eduardo Bolsonaro é acusado de atuar nos bastidores para articular com autoridades do governo Trump uma retaliação ao Brasil, com o objetivo de forçar o país a conceder anistia a envolvidos em atos antidemocráticos. O ápice desse movimento foi o anúncio do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, em vigor a partir desta sexta-feira, 1º de agosto.

Em declarações públicas, o deputado admitiu ter discutido a medida com representantes do governo norte-americano e afirmou que ela seria uma resposta à “perseguição” contra apoiadores de Bolsonaro.

“Chegou a hora do Congresso agir. A anistia ampla, geral e irrestrita é urgente para restaurar a paz, devolver a liberdade aos perseguidos e mostrar ao mundo que o Brasil ainda acredita na democracia”, escreveu Eduardo em suas redes sociais.

Atualmente licenciado do mandato, Eduardo Bolsonaro escaparia da cassação automática por excesso de faltas se comparecer virtualmente às sessões da Câmara. A regra prevê perda de mandato quando o parlamentar atinge 30% de ausências nas votações do ano legislativo. A estimativa, porém, é que, com o ritmo atual de sessões híbridas, Eduardo pode encerrar 2025 sem atingir o limite, o que zeraria a contagem.

Para o PT, aguardar esse trâmite é inviável diante da gravidade do caso. A estratégia agora é focar na atuação política para pressionar a presidência da Câmara e o Conselho de Ética a acelerar o julgamento dos pedidos de cassação com base em “atentado à soberania nacional”.

Além da pressão pela cassação, a campanha “Eu defendo o Brasil” foi lançada pela comunicação petista para reforçar a narrativa de que a medida dos Estados Unidos é uma consequência direta das articulações da família Bolsonaro.

Os vídeos da campanha misturam trechos do pronunciamento de Lula em rede nacional, em 17 de julho, com imagens de Eduardo e do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Chantagear um país inteiro para salvar a própria pele. Essa é a face mais obscura da traição de Bolsonaro ao Brasil”, afirma o narrador de um dos materiais.

As peças incluem também mensagens em formatos curtos para stories, figurinhas, vídeos de até 30 segundos e textos com frases de efeito para serem disparadas em grupos e páginas de apoiadores.

Enquanto a mobilização petista cresce, uma comitiva de senadores brasileiros se encontra nos Estados Unidos em busca de diálogo com autoridades americanas para tentar reverter ou amenizar o tarifaço anunciado por Trump.

Eduardo Bolsonaro, por sua vez, declarou que está trabalhando para dificultar esse diálogo. “Estou em contato com lideranças para evitar que esses parlamentares consigam vender uma narrativa distorcida. A soberania americana deve ser respeitada”, escreveu.

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