
No sábado (23), o diretório nacional do PT se reuniu em Brasília para duas tarefas centrais: eleger a nova comissão executiva e aprovar uma resolução política. Saiu das deliberações uma fotografia clara da prioridade da sigla: manter Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto e enfrentar, de fora para dentro, a influência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, foi alçado à presidência da executiva nacional. Seu caminho até o cargo não foi simples — exigiu acordos e concessões, entre elas a permanência de Gleide Andrade na Secretaria de Finanças e Planejamento, ligada à ministra Gleisi Hoffmann. A corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), que já comanda o partido, manteve o protagonismo: ocupa 14 dos 26 assentos da direção.
Os cinco vice-presidentes escolhidos são todos homens: Jilmar Tatto, Joaquim Soariano, José Guimarães, Rubens Junior e Washington Quaquá. No quadro das secretarias, há presença feminina, mas menor do que a esperada para uma legenda que defende a paridade de gênero. Entre as titulares estão Lucinha (Movimentos Populares), Maria de Jesus, a Claudinha (Nucleação), Vitória Fortuna (Políticas Públicas) e Tassia Rabelo (Formação).
Na lista completa, aparecem ainda Eden Valadares (Comunicação), Henrique Fontava (Secretaria-Geral), Humberto Costa (Relações Internacionais), Laércio Ribeiro (Organização), Luiz Felipe, o Hadesh (Mobilização), e Romenio Pereira (Assuntos Institucionais).
Se a composição da executiva revelou equilíbrio interno, a resolução aprovada mostrou o tom para fora. O texto de 29 itens começa com críticas duras a Trump. “Ninguém tem dúvida de que o governo Trump se inspira no fascismo”, disse Edinho Silva, em coletiva após a reunião. Para o dirigente, o republicano representa “o maior líder fascista do século 21”, com práticas racistas e imperialistas.
A menção a Trump não é gratuita. A avaliação da cúpula petista é que o presidente norte-americano, ao impor tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, tenta enfraquecer Lula e criar terreno desfavorável às eleições de 2026. O PT fala em “disputa de caráter prolongado”, que vai se estender por dimensões políticas, institucionais e econômicas.
O partido também planeja usar o 7 de Setembro como data-chave de mobilização popular. O mote será a defesa da democracia e da soberania, em contraste com o que classificam como “ameaça fascista” representada por Trump e pela direita brasileira.
Além do cenário internacional, a resolução aborda temas domésticos. Critica a possibilidade de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, defende a criação de um fórum permanente do PT da Amazônia Legal na COP30 e insiste na regulação das plataformas digitais.
No campo econômico, a proposta é clara: fim da escala 6x1, taxação dos super-ricos e isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil mensais.
Com a nova executiva, o PT sinaliza que a luta pela reeleição de Lula passará não apenas pela disputa interna de narrativas no Brasil, mas também pela forma como o partido vai enquadrar o embate com Trump, visto como adversário simbólico além das fronteiras nacionais.
