
As escolas de Mato Grosso do Sul, sempre ocupadas com o calendário de provas e os desafios diários do ensino, poderão em breve dedicar o mês de setembro a um assunto que, há não muito tempo, era tabu: a prevenção ao suicídio e à automutilação entre jovens. O Projeto de Lei 204/2024, proposto pela deputada Mara Caseiro (PSDB), sugere que o Setembro Amarelo — tradicionalmente voltado à conscientização sobre a saúde mental — faça parte do currículo escolar com palestras, seminários, debates e campanhas, tudo com o intuito de sensibilizar alunos e educadores.

A iniciativa, que tramita na Assembleia Legislativa, quer levar o tema diretamente para as salas de aula, principalmente do ensino médio. A ideia é que o projeto não fique limitado às escolas estaduais, podendo ser aplicado também em colégios municipais e particulares. "Estamos falando de vidas", diz Caseiro, que tem se empenhado em transformar o mês de setembro em um período de reflexão sobre a saúde mental dos jovens.
Os números assustam. Só em 2022, 318 pessoas tiraram a própria vida em Mato Grosso do Sul. Um número que, segundo estudos da Secretaria de Estado de Saúde, tem mostrado um crescimento preocupante entre crianças, adolescentes e jovens. "Falar sobre isso é urgente. E falar na escola é ainda mais importante, porque é lá que os sinais, muitas vezes, aparecem primeiro", defende a deputada.
Além dos muros institucionais -A proposta não é apenas repetir palestras e entregar folhetos. A ideia de Caseiro é promover uma verdadeira discussão sobre o assunto, ampliando o alcance do debate. "Já temos o projeto ‘Maria da Penha vai à Escola’, que leva o tema da violência doméstica para dentro das salas de aula. Agora, o que queremos é que o Setembro Amarelo siga o mesmo caminho, com discussões que extrapolem os muros institucionais", afirma. Ou seja, o suicídio, um tema que muitas vezes é evitado, deve ser tratado com a mesma seriedade que os problemas de violência de gênero.
Os educadores, nesse cenário, serão peças-chave. Serão eles os responsáveis por mediar o debate entre os estudantes e trazer à tona discussões que, na maioria das vezes, são silenciadas pela falta de informação ou pelo medo de abordar um tema tão sensível. "A ideia não é apenas conscientizar, mas criar um espaço seguro onde os alunos possam falar e ouvir sobre saúde mental", explica Caseiro.
Uma campanha no espaço mais desafiador: a escola - Em um ambiente onde cada olhar ou palavra pode ter peso, levar o Setembro Amarelo para dentro das escolas é uma jogada estratégica. Entre as quatro paredes da sala de aula, muitas vezes, escondem-se angústias, medos e dúvidas que passam despercebidos. Para os jovens, que estão imersos em transformações emocionais e sociais, a escola pode ser tanto um refúgio quanto um espaço de pressão. Daí a importância de inserir a saúde mental no contexto escolar, de uma maneira que vá além dos panfletos e das conversas rápidas.
Palestras, debates, panfletagens — o formato é amplo, mas o objetivo é claro: transformar o espaço escolar em um lugar onde o tema da saúde mental seja discutido com seriedade e sensibilidade. A meta, claro, é quebrar o silêncio. A mesma escola que prepara para o Enem também pode preparar para os desafios da vida emocional.
Os próximos passos - Com o projeto tramitando, as discussões na Assembleia Legislativa prometem ser intensas. Afinal, o tema toca em uma ferida que muitas vezes preferimos não encarar. Para Mara Caseiro, o maior desafio é justamente esse: fazer com que o suicídio e a automutilação sejam tratados como problemas de saúde pública, e não como algo que só se discute em ocasiões específicas. "É necessário falar abertamente sobre o tema", insiste a deputada.
Se aprovado, o Setembro Amarelo vai à Escola será mais do que uma campanha de conscientização: será um lembrete de que cuidar da saúde mental é tão importante quanto qualquer outra lição dada em sala de aula.
