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BOLSONARO PRESO

Levantamento mostra divisão nas redes após prisão domiciliar de Bolsonaro, mas maioria apoia decisão

Segundo a Quaest, 53% das menções foram favoráveis à prisão; publicações a favor tiveram mais engajamento e reação orgânica nas redes

5 agosto 2025 - 06h47Juliano Galisi
Jair Bolsonaro ficará em prisão domiciliar por ordem do ministro Alexandre de Moraes
Jair Bolsonaro ficará em prisão domiciliar por ordem do ministro Alexandre de Moraes - (Foto: Wilton Júnior/Estadão)

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs prisão domiciliar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), provocou uma avalanche de reações nas redes sociais e expôs a polarização em torno do episódio. De acordo com levantamento da consultoria Quaest, divulgado na noite desta segunda-feira (4), 53% das menções ao caso foram favoráveis à medida, enquanto 47% se posicionaram contra.

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A análise foi feita a partir de 1,16 milhão de postagens, com uma média de 51 mil menções por hora, geradas por mais de 401 mil autores únicos. A coleta dos dados foi encerrada às 21h de segunda-feira, menos de 24 horas após o anúncio da decisão de Moraes.

Além da ligeira maioria de publicações favoráveis à decisão do STF, a Quaest destacou que essas manifestações apresentaram maior engajamento e fragmentação em termos de autoria, o que, segundo os analistas da empresa, indica uma reação mais espontânea e orgânica.

Embora o volume de menções seja relativamente equilibrado, a análise da Quaest vai além dos números brutos. A consultoria identificou que as manifestações contrárias à prisão de Bolsonaro tendem a se concentrar em perfis mais organizados, com vínculos político-partidários evidentes — especialmente de parlamentares, formadores de opinião da base bolsonarista e influenciadores conservadores.

Já os conteúdos favoráveis à medida de Moraes foram compartilhados por um público mais disperso, com maior variação de perfis e maior índice de engajamento médio. Isso reforça, de acordo com os analistas, a ideia de uma indignação coletiva mais descentralizada e menos dependente de lideranças políticas.

“A natureza da reação favorável sugere que houve um movimento orgânico nas redes, e não necessariamente coordenado. Isso se traduz em mais curtidas, compartilhamentos e comentários por publicação, mesmo sem figuras centrais articulando a narrativa”, afirma o relatório da Quaest.

A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro foi decretada por Moraes após o ex-presidente violar, pela segunda vez, medidas cautelares impostas pelo STF. Desde 18 de julho, Bolsonaro está proibido de usar redes sociais — inclusive por meio de terceiros — como parte das condições que o mantêm fora da prisão preventiva, no contexto da ação penal em que é acusado de liderar um plano para subverter o resultado das eleições de 2022.

O novo episódio de descumprimento ocorreu no último domingo (3), quando Bolsonaro participou, por telefone, de uma manifestação bolsonarista na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. O vídeo com a fala do ex-presidente foi postado nas redes do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, e posteriormente apagado.

Ainda no domingo, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) exibiu uma chamada de vídeo com Bolsonaro durante ato em São Paulo, o que também foi apontado por Moraes como nova violação deliberada das restrições impostas.

Na decisão, Moraes foi categórico ao afirmar que Bolsonaro agiu de forma dolosa e coordenada para “produzir material pré-fabricado com o intuito de coagir o STF e obstruir a Justiça”. O ministro citou explicitamente a atuação dos filhos do ex-presidente, Flávio e Carlos Bolsonaro, e de aliados como Nikolas Ferreira como parte de uma estratégia para manter Bolsonaro presente nos atos políticos, ainda que de forma indireta.

“O réu Jair Messias Bolsonaro realizou ligação telefônica, por chamada de vídeo, com seu apoiador político e deputado federal Nikolas Ferreira, demonstrando o desrespeito à decisão proferida por esta Suprema Corte”, escreveu o ministro.

A repercussão nas redes também teve reflexo no Congresso. Parlamentares bolsonaristas anunciaram que pressionarão os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para que sejam pautados pedidos de impeachment contra Moraes, além do projeto de anistia a envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro compartilhou uma mensagem bíblica nas redes em resposta à prisão do marido, enquanto o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, declarou estar “inconformado” com a decisão do STF.

A análise da Quaest reforça uma mudança de cenário em relação à popularidade digital do ex-presidente. Se em momentos anteriores Bolsonaro detinha uma supremacia de apoio em determinadas redes sociais, os dados recentes mostram uma disputa mais acirrada de narrativas e, no caso específico da prisão domiciliar, uma reação favorável que supera, ainda que por pequena margem, os protestos contrários.

A consultoria não revelou a distribuição por plataforma, mas historicamente o ex-presidente concentra maior força no X (antigo Twitter) e em aplicativos de mensagens como Telegram e WhatsApp. Já as manifestações mais críticas ao bolsonarismo costumam ter maior capilaridade no Instagram e no Facebook.

O levantamento da Quaest funciona como um retrato parcial, mas representativo, da temperatura política nas redes. Especialistas em comunicação digital alertam que o ambiente online, apesar de não ser espelho perfeito da opinião pública geral, exerce grande influência na formação de discursos políticos e decisões partidárias.

No caso de Bolsonaro, a prisão domiciliar marca mais um capítulo da crescente judicialização de sua trajetória política, que já o colocou em situação de inelegibilidade até 2030. O embate com o STF promete continuar dominando o debate nacional nas próximas semanas, tanto nos tribunais quanto nos timelines.

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