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JUDICIÁRIO

Moraes vê nota da Defesa como prova de alinhamento entre Bolsonaro e ex-ministro

Ministro do STF critica tentativa de sustentar discurso de fraude nas eleições e chama atuação de 'criminosa'

9 setembro 2025 - 12h55Gabriel Hirabahasi, Lavínia Kaucz e Pepita Ortega
Moraes afirma que nota da Defesa foi tentativa de alimentar discurso de fraude nas eleições de 2022
Moraes afirma que nota da Defesa foi tentativa de alimentar discurso de fraude nas eleições de 2022 - Foto: WILTON JUNIOR
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Durante julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (9), o ministro Alexandre de Moraes criticou duramente a nota divulgada pelo Ministério da Defesa em 2022 que, mesmo sem apontar indícios de irregularidades nas urnas eletrônicas, insinuava a possibilidade de fraude no sistema eleitoral. Para Moraes, o documento reforça o alinhamento político entre o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, ambos réus na ação que apura tentativa de golpe de Estado.

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“A nota foi uma das mais esdrúxulas e vergonhosas que um ministro da Defesa já assinou. Tentava disfarçar a própria conclusão das Forças Armadas, que não encontrou nada de errado. Tudo para manter acesa a chama do discurso de fraude e impedir a posse do presidente e do vice eleitos”, declarou Moraes durante seu voto.

Segundo o ministro, a conduta de Paulo Sérgio Nogueira “seria apenas vergonhosa se não fosse criminosa”. Ele enfatizou que os atos atribuídos ao ex-ministro foram parte de uma estratégia coordenada para deslegitimar o processo eleitoral e fomentar a instabilidade institucional após a derrota de Bolsonaro nas urnas.

Esquecimentos perigosos

Em um discurso enfático e detalhado, Moraes disse que é preciso relembrar os fatos que se sucederam após as eleições presidenciais de 2022. Ele pediu desculpas aos colegas da Primeira Turma do STF pelo voto longo, mas justificou: “Acabamos esquecendo tudo o que aconteceu. Precisamos lembrar da sequência dos atos que culminaram nos absurdos que vieram após o segundo turno.”

O ministro ressaltou que o dia a dia leva os brasileiros a se distanciar dos acontecimentos que, segundo ele, colocaram a democracia em risco. “Foram tantos absurdos que vários acabamos esquecendo”, pontuou.

'Má-fé' do Partido Liberal

Alexandre de Moraes também relembrou o episódio em que o Partido Liberal (PL), sigla de Bolsonaro, solicitou ao TSE a anulação de votos registrados em cerca de 48% das urnas eletrônicas — curiosamente apenas do segundo turno. A alegação era de que os modelos de urnas seriam antigos. No entanto, no primeiro turno, as mesmas urnas foram utilizadas sem contestação por parte do partido.

Para o ministro, a intenção do PL era clara: beneficiar Jair Bolsonaro sem prejudicar os próprios candidatos. “No primeiro turno, o partido elegeu 99 deputados. Se anulassem os votos de lá, cairiam pela metade. Então disseram que no primeiro turno não havia problema, só no segundo. Isso é má-fé explícita”, disparou Moraes.

Ele classificou a tentativa de contestação como mais um ato dentro de uma sequência coordenada que visava minar a confiança nas eleições e preparar o ambiente para uma ruptura institucional.

Um contexto maior

A fala de Moraes acontece em meio ao julgamento de ações contra envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando a sede dos Três Poderes foi invadida por extremistas. O ministro tem sido uma das principais vozes no STF contra a tentativa de golpe e já determinou dezenas de prisões e bloqueios de bens de envolvidos direta ou indiretamente nos atos.

A conexão entre o discurso de fraude, as movimentações institucionais do entorno bolsonarista e os atos do 8 de janeiro é uma das principais teses sustentadas por Moraes em seus votos. Ele reforça que todos os elementos fazem parte de uma mesma engrenagem, que teve como objetivo final sabotar o resultado das eleições presidenciais de 2022.

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