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BLOQUEIO DE CONTAS

Ministro Alexandre de Moraes bloqueia contas do senador Marcos do Val após viagem aos EUA

Parlamentar teria descumprido medida cautelar ao sair do país com passaporte diplomático; ele alega que não fugiu e critica decisão do STF

26 julho 2025 - 07h10Nino Guimarães
Ele viajou para os Estados Unidos sem autorização do Supremo
Ele viajou para os Estados Unidos sem autorização do Supremo - (Foto: Agência Senado)

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o bloqueio das contas bancárias, cartões e chaves Pix do senador Marcos do Val (Podemos-ES), após o parlamentar viajar para os Estados Unidos mesmo com o passaporte retido por ordem judicial. A decisão foi tomada após o senador descumprir medidas cautelares impostas no âmbito da Operação Disque 100, da Polícia Federal.

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Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, Moraes fixou um prazo de 24 horas para que as instituições financeiras executem o bloqueio completo das movimentações financeiras do parlamentar, incluindo cartões de crédito, débito, transferências eletrônicas e demais bens. A medida foi confirmada oficialmente pelo STF, que esclareceu, em nota, que a decisão não afeta a filha do senador.

“Foram bloqueados as contas, salários, Pix e demais bens do senador em razão do descumprimento de medidas cautelares”, informou a Corte por meio de nota.

A polêmica se intensificou quando veio à tona que Marcos do Val viajou para os Estados Unidos durante o recesso parlamentar, mesmo estando com o passaporte bloqueado desde agosto de 2023. Em seu canal no YouTube, onde acumula mais de 400 mil inscritos, o senador afirmou que entrou legalmente no país usando o passaporte diplomático e negou qualquer tentativa de fuga.

"Eu não tenho motivo para fugir. Não respondo a nenhum processo, não sou denunciado por nenhum crime. O que o Alexandre de Moraes fez, de tentar suspender meu passaporte... eu não entreguei à Polícia Federal porque é uma violação, um crime contra a Constituição", declarou.

Ele disse ainda que viajou para "curtir o recesso" ao lado da filha, de quem estava afastado havia dois anos e meio. “Não estou fugindo. Estou com minha filha, aproveitando o tempo juntos. Tenho total consciência da legalidade do meu ato", acrescentou.

A medida cautelar de retenção do passaporte de Marcos do Val foi emitida no âmbito da chamada Operação Disque 100, da Polícia Federal. O parlamentar é investigado por suposta participação em um grupo que promovia ataques virtuais contra agentes da Polícia Federal envolvidos em apurações sensíveis junto ao STF.

Embora o caso esteja sob segredo de Justiça, a existência do inquérito foi confirmada, e desde então, diversas medidas restritivas vêm sendo impostas ao senador. Além do bloqueio do passaporte, ele já havia sido alvo de suspensão de perfis em redes sociais, como o Instagram e o X (antigo Twitter), que se mantêm desativados por decisão judicial. Seu canal no YouTube, porém, permanece ativo.

A decisão de Moraes foi vista como mais um capítulo do embate entre o senador e o Judiciário. Aliados de Marcos do Val confirmaram a ordem de bloqueio financeiro e manifestaram preocupação com os desdobramentos da investigação. Até o momento, não houve pronunciamento oficial da liderança do Podemos sobre o caso.

Fontes próximas ao senador relataram ao Estadão que Marcos do Val pretende retornar ao Brasil nos próximos dias e que deverá buscar, por meio de seus advogados, reverter a decisão judicial no STF.

A defesa do parlamentar ainda não se manifestou oficialmente após o novo bloqueio, mas interlocutores indicam que um pedido de reconsideração será apresentado nos próximos dias, com base na argumentação de que a viagem teve caráter pessoal e não representou descumprimento intencional das medidas impostas.

Marcos do Val tem adotado uma postura de enfrentamento ao Supremo Tribunal Federal, especialmente ao ministro Alexandre de Moraes. Nos últimos meses, o senador tem usado seus canais nas redes sociais para criticar o Judiciário e questionar decisões tomadas no curso de investigações em que seu nome aparece.

O senador, que tem base eleitoral no Espírito Santo, passou a ganhar projeção nacional nos últimos anos, sobretudo entre setores mais conservadores do Congresso. Seus discursos em defesa das liberdades individuais e contra o que considera "abusos do Judiciário" encontram eco em parte do eleitorado.

Ao manter o canal no YouTube como sua principal plataforma de comunicação, Marcos do Val vem adotando uma estratégia semelhante à de outros parlamentares que, afastados de redes sociais tradicionais, migraram para espaços com menor controle de moderação.

Como o inquérito permanece sob segredo de Justiça, não é possível saber o conteúdo completo das acusações contra o parlamentar. No entanto, fontes ligadas ao STF indicam que novas medidas podem ser tomadas caso o senador insista em desobedecer ordens judiciais.

A permanência de Marcos do Val nos Estados Unidos ainda é incerta. Não há informações oficiais sobre a data de seu retorno ao Brasil, nem se a Polícia Federal pretende adotar medidas adicionais para garantir o cumprimento das restrições impostas.

O caso reacende o debate sobre os limites da imunidade parlamentar, a relação entre Legislativo e Judiciário e a efetividade das medidas cautelares em curso no âmbito das investigações que envolvem autoridades com mandato eletivo.

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