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TENTATIVA DE GOLPE

Militar acusado de planejar golpe diz que Moraes era "fator crítico", mas nega plano de execução

Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima afirma que documento com etapas do golpe era só um exercício teórico; ele também nega monitorar Lula e ter discutido ações com Braga Netto

28 julho 2025 - 16h55Nino Guimarães
Tenente-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima acusado de elaborar o plano para matar Alckmin e Lula
Tenente-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima acusado de elaborar o plano para matar Alckmin e Lula - Foto: Reprodução/Polícia Federal
Terça da Carne

O tenente-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima, integrante das Forças Especiais e citado nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, negou ter participado de qualquer plano de execução para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (28), ele afirmou que o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, era um "fator crítico", mas não o “centro de gravidade” de uma eventual ruptura institucional.

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa o militar de integrar o núcleo 3 da trama golpista, sendo um dos responsáveis pela chamada “Operação Copa 2022”, que tinha como objetivo, segundo os investigadores, neutralizar Moraes.

Durante o interrogatório conduzido pelo juiz auxiliar Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, Hélio disse que foi designado para realizar estudos de inteligência e montar um cenário “hipotético”, com base na suposição de que fraudes teriam sido detectadas no processo eleitoral.

Documento citado era “estudo de cenário”, diz defesa

A Polícia Federal encontrou em posse do militar uma planilha intitulada “Desenho Op Luneta”, detalhando em cinco etapas um possível plano para tomada do poder e controle dos Três Poderes.

Hélio e sua defesa sustentam que o arquivo foi produzido em um pen drive funcional e tratava-se apenas de um exercício de inteligência, com base em normas do Ministério da Defesa. “Não tinha condições de ser executado nem por grupo clandestino. Era uma análise de cenário prospectivo”, afirmou.

A denúncia da PGR descreve que, entre os trechos da planilha, havia referência à “neutralização” de fatores de instabilidade no Supremo, culminando em um “estado final desejado” sob controle do grupo conspirador. Hélio, porém, negou qualquer intenção de executar o que estava descrito.

Braga Netto, Mauro Cid e o “clima de velório”

A acusação também aponta que o tenente-coronel esteve na casa do general Walter Braga Netto junto a Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, para discutir supostas ações clandestinas contra Alexandre de Moraes.

No depoimento, Hélio afirmou que o encontro com Braga Netto durou menos de 20 minutos, a pedido de Cid. “Não foi uma reunião. Nunca vi um general quatro estrelas de chinelo e roupa caseira. Não tomamos nem água. Era um clima de velório”, disse, negando qualquer conversa sobre plano golpista.

Acampamentos, Lula e vigilância

Hélio Ferreira Lima também negou ter monitorado o presidente eleito Lula. Disse que estava hospedado em Brasília apenas para visitar o filho, embora tenha admitido que a estadia coincidiu com a presença de Lula na cidade.

Sobre os acampamentos de manifestantes bolsonaristas em frente a quartéis, afirmou que foi orientado a produzir estudos de inteligência, mas que não havia intenção de articular qualquer ação violenta.

Ele reconheceu ter enviado um documento a Mauro Cid durante o período eleitoral e disse acreditar, naquele contexto, que a “possibilidade de fraude tinha aumentado muito”.

Outro militar ouvido negou articulações

Antes de Hélio, o também tenente-coronel Fabrício Moreira de Bastos prestou depoimento e negou ter participado da escolha de militares para pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes. Segundo a PGR, ele teria ajudado a selecionar os chamados “kids pretos” — integrantes das forças especiais envolvidos nas discussões de ruptura institucional.

Fabrício disse que os encontros eram apenas reuniões com amigos e não tinham objetivo de organizar qualquer ação golpista.

As investigações continuam no STF, com base nas denúncias da PGR e nas provas reunidas pela Polícia Federal sobre a atuação de militares e ex-integrantes do governo Bolsonaro em supostos planos para impedir a transição democrática.

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