
Após mais de três meses de silêncio, o deputado federal Marcos Pollon (PL/MS), o mais votado no Mato Grosso do Sul em 2022, quebrou o distanciamento autoimposto e finalmente falou publicamente nesta segunda-feira (11).

Em uma entrevista cheia de insinuações, mas poucas respostas diretas, Pollon comentou sobre seu novo aplicativo de fiscalização pública, ações de combate à corrupção e a incerteza sobre compartilhar o partido com ex-aliados do PSDB, incluindo o ex-governador Reinaldo Azambuja.
Pollon justificou seu silêncio dizendo tratar-se de uma “escolha tática” depois que o partido que ajudou a eleger firmou uma aliança com os antigos adversários. Em suas palavras, optou por um “silêncio obsequioso”, uma expressão emprestada do Direito Canônico. “Eu avisei que não apoiaria candidatos de esquerda ou centro-esquerda. Meu partido escolheu essa direção, então preferi me calar”, declarou. Mas a escolha de palavras elevadas e seu tom nebuloso deixaram uma questão no ar: seria realmente um recuo estratégico ou uma ausência imposta pelo desconforto com os rumos do PL no estado?
Aplicativo para “aproximação” – mas com limites - O deputado também anunciou o lançamento de um aplicativo para que cidadãos possam denunciar irregularidades na administração pública. Embora o discurso aparente modernidade e transparência, a proposta ainda carece de clareza sobre como a população terá garantia de acompanhamento nos casos e quais os limites de atuação da plataforma. Pollon não detalhou como as denúncias feitas pela população seriam formalmente convertidas em ações ou como seria sua tramitação entre os órgãos competentes. E, embora a ferramenta prometida para 2025 pareça inovadora, fica a dúvida sobre sua eficácia real e alcance prático.
Contradições sobre apoio eleitoral e falta de comprometimento - Em uma série de declarações aparentemente contraditórias, Pollon comentou sua postura na última eleição municipal em Campo Grande. Declarou ter apoiado Adriane Lopes, mas insistiu que fez campanha “sem qualquer pretensão de cargos na administração”. A incoerência dessa afirmação não passou despercebida: ao declarar apoio, Pollon naturalmente reforçou sua influência política, mesmo sem um papel oficial.
Além disso, o parlamentar reiterou que continua visitando apoiadores presos por envolvimento nos eventos de 8 de janeiro, mas não esclareceu se esses apoios se traduzem em práticas políticas objetivas ou simplesmente um aceno simbólico à sua base mais conservadora. E, ainda que tenha sugerido que a anistia para esses detidos seja um ponto-chave para seu apoio ao candidato Hugo Motta na presidência da Câmara, não deu garantias sobre o alcance ou viabilidade dessa promessa.
Sem clareza sobre 2026 - A entrevista também trouxe à tona o desconforto de Pollon com a possibilidade de uma migração de tucanos, como o ex-governador Reinaldo Azambuja, para o PL-MS. Pollon evitou confirmar qualquer plano concreto, usando apenas a expressão “cada dia com seu próprio mal” e desviando de uma resposta direta sobre como lidará com essa aliança caso se concretize.
Aos jornalistas presentes, Pollon deixou a impressão de uma política marcada pela retórica evasiva, sem um posicionamento claro sobre como pretende defender seus princípios em um partido cada vez mais misto e sem unidade ideológica.
Bancada conservadora e uma vigilância seletiva - Com a promessa de uma atuação vigilante em Brasília, Pollon insistiu que estará de olho nas pautas que considera fundamentais, como a regulamentação de biodefensivos e a proteção ao nascituro, temas caros ao eleitorado conservador.
Em um momento de crescentes dúvidas sobre a coesão do PL e sua identidade no cenário político nacional, a entrevista de Pollon revelou mais hesitação do que comprometimento. A retórica de oposição continua, mas faltam ações concretas e, no fim, seu discurso soa mais como uma manobra para manter o apoio de sua base sem assumir um compromisso verdadeiro com os rumos do partido.
