
Domingo, 30 de março, foi dia de protesto na Avenida Paulista. Mas, ao contrário das grandes mobilizações de outros tempos, o ato liderado por Guilherme Boulos (PSOL-SP) reuniu um público mais modesto — cerca de 6,6 mil pessoas, segundo levantamento com uso de inteligência artificial feito pela USP e pela ONG More in Common.

O alvo da manifestação era o chamado PL da Anistia, projeto de lei apresentado pelo deputado Major Vitor Hugo (PL-GO), que pretende perdoar todos os envolvidos nas manifestações e invasões de prédios públicos em 8 de janeiro de 2023. Na prática, abriria caminho para beneficiar até o ex-presidente Jair Bolsonaro, hoje réu por tentativa de golpe de Estado.
Durante o ato, Boulos subiu no palanque e não poupou palavras: “O mundo gira e nós ainda vamos ter oportunidade de pegar a Comissão de Direitos Humanos da Câmara e levar a marmita da Cozinha Solidária para ele lá na Papuda”, disse, em referência a uma eventual prisão de Bolsonaro.
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do governo na Câmara, também discursou. Para ele, esta será uma “semana decisiva” para enterrar de vez o projeto. “Só de votar já é um crime”, afirmou.
O evento teve ainda a presença de parlamentares da esquerda, como Carlos Zarattini, Orlando Silva, Ivan Valente e Erika Hilton, além de deputados estaduais paulistas.
Organizado por movimentos ligados ao PT e ao PSOL, o protesto ocorreu na Praça Oswaldo Cruz, no início da Avenida Paulista. De lá, os manifestantes seguiram até o antigo prédio do DOI-Codi, símbolo da repressão durante a ditadura militar. A caminhada foi também um ato simbólico contra o golpe de 1964, que completa 60 anos neste mês.
Além de São Paulo, outras sete capitais registraram manifestações similares: Brasília, Belo Horizonte, Recife, Belém, São Luís, Curitiba e Fortaleza.
Nas redes sociais, políticos da oposição ironizaram o tamanho do ato. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) chamou a manifestação de “vazia”, enquanto o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) postou uma foto e afirmou, em tom de deboche, que contou “44 pessoas”.
O projeto de anistia ainda não foi votado, mas o placar do Estadão mostra que 192 deputados são a favor da proposta, 126 contra e 106 não quiseram se posicionar. Como são necessários 257 votos para aprovar a medida na Câmara, o cenário ainda é incerto.
A questão é saber se o PL, ao incluir até Bolsonaro entre os possíveis anistiados, conseguirá votos suficientes para seguir adiante. Por enquanto, a base do governo aposta em barrar o texto no plenário.
