
Na manhã da terça-feira (02 de setembro), enquanto os ministros do Supremo Tribunal Federal se preparavam para iniciar o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, o pastor Silas Malafaia decidiu se pronunciar — não nos tribunais, mas nas redes. Disse que não assistiria à sessão. E explicou por quê: “Já sei a sentença. Bolsonaro já foi julgado e condenado. Só uma intervenção divina pode mudar algo, porque, se depender da justiça dos homens, Bolsonaro já está condenado”.

A declaração foi dada ao portal Metrópoles e logo se espalhou. Malafaia é um dos pastores evangélicos mais influentes do país e amigo próximo de Bolsonaro. Suas falas, mesmo quando não fazem parte de decisões oficiais, acabam influenciando o debate público, especialmente entre seus fiéis e seguidores.
O julgamento que ele resolveu ignorar começou no mesmo dia, às 9h, na 1ª Turma do STF. Bolsonaro e outros sete nomes ligados ao antigo governo respondem por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e destruição de patrimônio público tombado. As penas, somadas, podem chegar a 43 anos.
Apesar da previsão de sessões até 12 de setembro, Malafaia disse não ver motivo para acompanhar o processo. “A sentença já está pronta”, afirmou. A fala parece mais um recado político do que uma análise jurídica — e, para muitos, reforça a linha de confronto adotada por parte da base bolsonarista diante das instituições.
Mas há outro elemento em jogo: o próprio Malafaia também é alvo de investigação. Em 20 de agosto, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, ele teve o celular apreendido pela Polícia Federal. Está proibido de deixar o país e de se comunicar com outros investigados do “núcleo 1”, aquele que teria articulado a tentativa de golpe. Moraes também autorizou a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico.
Com isso, o pastor virou, além de porta-voz espiritual, uma peça direta no tabuleiro judicial que se desenha em Brasília.
Enquanto Bolsonaro acompanha o julgamento de forma remota, de sua prisão domiciliar, Malafaia segue atuando do lado de fora. Nas redes, nas entrevistas e nos púlpitos. A narrativa da perseguição e da injustiça continua sendo o fio condutor do discurso.
