
Até pouco tempo, Inocência era uma daquelas cidades do interior de Mato Grosso do Sul que passavam despercebidas no mapa. Com cerca de 8 mil moradores, ruas tranquilas e uma rotina marcada pelo campo, o município agora começa a viver uma transformação que poucos imaginariam: vai abrigar a maior fábrica de celulose do mundo.

Na última quarta-feira (09 de abril), a cidade recebeu um evento histórico. Foi lançada a pedra fundamental do Projeto Sucuriú, empreendimento da multinacional chilena Arauco, que vai investir R$ 25 bilhões na nova unidade. No auge da construção, a previsão é que 14 mil trabalhadores estejam envolvidos na obra. Quando a fábrica começar a funcionar, no final de 2027, serão cerca de 6 mil empregos diretos e permanentes.
Eduardo Riedel, Geraldo Alckmin e diretores da Arauco durante visita à área onde será construída a maior fábrica de celulose do mundo, em Inocência (MS).
Durante a cerimônia, o governador Eduardo Riedel resumiu o espírito do momento: “É uma alegria muito grande participar disso, porque esse projeto é fruto de uma construção de confiança. Nós fomos ao Chile, conversamos com os donos, mostramos quem somos. Hoje, essa parceria se torna realidade”, disse.
Com fala tranquila e tom otimista, Riedel garantiu que o estado vai continuar oferecendo um ambiente seguro e profissional para investimentos como esse. “O Mato Grosso do Sul vai corresponder à altura”, afirmou.
Em conversa à beira do canteiro de obras, Eduardo Riedel, Geraldo Alckmin e executivos da Arauco discutem o avanço das primeiras etapas da construção da fábrica de celulose.
A fábrica será construída em uma área de 3.500 hectares, a 50 km do centro da cidade. Vai produzir 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano, um material usado em papel, fraldas, embalagens e até em cosméticos. Quase tudo será exportado. Ou seja: Inocência vai produzir para o mundo.
Autoridades participam do lançamento da pedra fundamental do Projeto Sucuriú, fábrica da Arauco em Inocência (MS), que prevê investimento de R$ 25 bilhões e promete impacto econômico regional.
“O Brasil que a gente quer - Quem também esteve no evento foi a ministra do Planejamento, Simone Tebet, que emocionou os presentes ao lembrar da história da região. “Em 1975, meu pai, Ramez Tebet, então prefeito, sonhou com uma fábrica de celulose por aqui. Ele não viveu pra ver isso acontecer. Depois, como prefeita, eu inaugurei a primeira em Três Lagoas. Agora, estamos lançando a quinta fábrica no estado. E vai ser a maior do mundo”, contou.
Com voz firme, ela completou: “Isso é unir desenvolvimento econômico com desenvolvimento social. É renda, é emprego, é menos desigualdade. Esse é o Brasil dos nossos sonhos”.
O presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, também marcou presença. Ele destacou a importância das exportações e da geração de empregos. “Estamos desburocratizando e reduzindo custos para que projetos como esse aconteçam. Isso significa dignidade para as pessoas”, disse.
O sonho de Toninho da Cofap - Para o prefeito de Inocência, Antonio Ângelo Garcia dos Santos, conhecido como Toninho da Cofap, o lançamento da pedra fundamental foi mais do que um ato simbólico. Foi a concretização de anos de trabalho silencioso, reuniões, projetos e espera. “Lutamos muito por isso. É um sonho que se realiza. E agora vamos precisar de todos para fazer essa cidade crescer com responsabilidade e planejamento”, afirmou.
Toninho, que conhece cada canto da cidade, sabe que o desafio vai além da construção da fábrica. A população pode saltar de 8 mil para mais de 30 mil durante as obras. Por isso, o município já se organiza com o apoio do Governo do Estado e da própria Arauco, que anunciou um Plano Estratégico Socioambiental (PES) com R$ 85 milhões em investimentos na cidade, voltados para saúde, educação, qualificação profissional, moradia e melhorias urbanas.
Além disso, o Estado também confirmou R$ 65 milhões em obras de infraestrutura, transporte, saúde e saneamento, preparando Inocência para um novo ciclo de desenvolvimento.
Governador Eduardo Riedel discursa durante o evento e destaca que o projeto é fruto de uma construção de confiança entre o governo do estado e a empresa Arauco.
Uma fábrica moderna, limpa e com energia própria - O Projeto Sucuriú não chama atenção apenas pelo tamanho do investimento ou pelo número de empregos. A fábrica será uma das mais modernas do mundo, com produção de energia limpa: serão 400 megawatts gerados a partir dos resíduos da própria produção — o suficiente para abastecer uma cidade de médio porte. Metade dessa energia será usada na própria unidade, e o restante será vendido no mercado.
Além disso, haverá monitoramento da biodiversidade local, com cuidado especial com a vegetação nativa e áreas de preservação.
Inocência no centro do mapa - O CEO da Arauco, Cristian Infante, explicou por que a empresa escolheu Inocência para seu maior projeto. “O Estado oferece tudo que precisamos: clima favorável para o crescimento das florestas, infraestrutura, mão de obra e seriedade no trato com os investidores. Aqui encontramos parceria, não obstáculos”, afirmou.
Já o diretor-presidente da Arauco Brasil, Carlos Altimiras, destacou a posição estratégica do estado. “Estamos no principal eixo de celulose do Brasil. Com essa fábrica, queremos promover prosperidade, cuidar do meio ambiente e ajudar o estado a crescer”, disse.
Hoje, Mato Grosso do Sul já tem outras quatro grandes fábricas do setor. Com a chegada da nova unidade, o estado se consolida como um dos maiores polos de celulose do mundo, um título que, há poucas décadas, parecia impossível.
Para quem vive em Inocência, o nome do projeto — Sucuriú — remete ao rio que corta a região. Mas, agora, será também lembrado como o símbolo de um novo tempo: de emprego, movimento e esperança.
