
Há encontros que ultrapassam as formalidades da política e mergulham na intimidade de décadas de convivência. Foi o que se viu na última quinta-feira, 5 de dezembro, em Ribas do Rio Pardo, durante a inauguração da fábrica de celulose da Suzano. Ali, no coração do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, ex-governador e atual deputado estadual, encontrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o gesto de Zeca foi tão nostálgico quanto simbólico: entregou a Lula um álbum de fotos do carnaval de 1997 em Porto Murtinho, uma cidade que é mais história do que geografia.
As imagens, registradas por Ernesto Franco, capturam um momento quase mítico: o então sindicalista Lula, ainda longe de sua primeira vitória presidencial, dançando no carnaval, pescando no Rio Paraguai e compartilhando conversas com uma lista de companheiros que parece saída de uma reunião histórica do Partido dos Trabalhadores. “Foi uma viagem sensacional e que rendeu belíssimas memórias”, escreveu Zeca em suas redes sociais, aproveitando para fazer o convite que soa tanto como um gesto de amizade quanto uma declaração de saudade: “Convidamos o Lula para uma nova estadia em Murtinho e uma nova pescaria.”
Entre a política e a beira do rio - Lula e Zeca dividem mais do que uma afinidade política. O presidente costuma dizer que foi ele quem ensinou o amigo a pescar – “Zeca pode ter sido o melhor governador de Mato Grosso do Sul, bom vereador, bom deputado, mas fui eu quem o ensinou a pescar”, brincou Lula em abril, durante sua primeira visita oficial ao estado no terceiro mandato. Zeca, por sua vez, nunca perdeu a oportunidade de celebrar sua cidade natal, Porto Murtinho, como o ponto de encontro entre a política, o lazer e as histórias que se tornam parte da memória coletiva.
Lula e Zeca do PT pescando
O álbum entregue a Lula é mais do que uma coleção de fotos: é uma narrativa que mistura os dois universos. As imagens mostram um Lula descontraído, cercado de nomes que ajudariam a moldar o PT e a política brasileira, como Cristovam Buarque, Luiz Greenhalgh e até Lulinha, o filho mais velho do presidente. Na época, as preocupações com eleições e mandatos eram suspensas em favor de um momento de conexão à margem do Rio Paraguai, onde o som das águas se mistura às risadas de pescadores improvisados.
Uma nova pescaria à vista - Em Ribas do Rio Pardo, Zeca e Gilda Santos, sua companheira de tantas jornadas, aproveitaram o presente para renovar o convite: “Lula, venha pescar novamente conosco.” O gesto, feito com um sorriso, carrega a cumplicidade de quem sabe que a política pode ser árdua, mas as amizades forjadas no meio do caminho são a verdadeira recompensa.
Para Lula, que coleciona histórias de viagens pelo Brasil antes mesmo de sua ascensão ao Planalto, Porto Murtinho ocupa um lugar especial. É um dos poucos lugares onde, por algumas horas, ele pode deixar de ser “o presidente” e se permitir apenas ser “o companheiro Lula”.
Memórias que constroem o futuro - O encontro entre Lula e Zeca em Ribas do Rio Pardo foi marcado pelo pragmatismo da política – a fábrica da Suzano é um marco para o desenvolvimento do estado –, mas o álbum de fotos e o convite para uma nova pescaria trouxeram uma dimensão humana que é rara em eventos oficiais. Entre discursos e flashes, ali estava a lembrança de um carnaval de 27 anos atrás, a promessa de um novo encontro e a certeza de que o Pantanal sempre terá espaço para mais uma história.
Zeca, que segue na política estadual, e Lula, no comando do país, são dois homens que encontraram no Pantanal não apenas um refúgio, mas um ponto de partida para imaginar um Brasil em que trabalho e diversão, política e amizade, possam coexistir.

