
A reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, neste domingo (26), na Malásia, repercutiu fortemente no cenário político brasileiro. Enquanto aliados de Jair Bolsonaro (PL) reagiram à fala de Trump sobre o ex-presidente, autoridades do governo comemoraram o retorno do diálogo diplomático entre as duas nações e o início das negociações sobre o tarifaço americano.
Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, o encontro foi um sinal positivo. “O encontro entre o presidente Lula e o presidente Donald Trump, hoje, na Malásia, prova que temos bons motivos para acreditar no diálogo. Foi mais um passo para Brasil e EUA estreitarem ainda mais seus laços de amizade. E é mais uma evidência do compromisso do governo do presidente Lula com o povo brasileiro”, escreveu Alckmin no X (antigo Twitter).
Durante o encontro, realizado nos arredores da Cúpula da Associação de Países do Sudeste Asiático (Asean), os dois presidentes discutiram por cerca de 45 minutos o impacto da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações brasileiras. Ficou definido que Brasil e EUA darão início imediato às negociações para revisar a medida. A primeira reunião entre as delegações está marcada para as 8h da manhã desta segunda-feira (27), no horário da Malásia — 21h de domingo no horário de Brasília.
Trump elogia Bolsonaro e gera reações - Em meio ao tom diplomático, um momento específico da conversa rendeu repercussão entre parlamentares brasileiros. Durante a recepção à imprensa, Trump elogiou Jair Bolsonaro, dizendo que “sempre gostou dele” e que o ex-presidente “passou por muita coisa”. Lula, ao lado do americano, aparece sorrindo, mas não comentou a fala.
“Eu sempre gostei dele, fiquei muito mal com o que aconteceu com ele. Sempre achei que ele era um cara honesto, mas ele já passou por muita coisa”, disse Trump, sem entrar em detalhes ou retomar o tema na reunião fechada.
A declaração foi suficiente para provocar uma série de reações de aliados de Bolsonaro, que viram um possível incômodo por parte de Lula.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que a menção a Bolsonaro causou desconforto em Lula. “Lula encontra Trump e na mesa um assunto que claramente incomoda o ex-presidiário: Bolsonaro. Imagine o que foi tratado a portas fechadas?”, escreveu.
Outros deputados bolsonaristas, como Hélio Lopes (PL-RJ), Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Evair de Melo (PP-ES) e Bibo Nunes (PL-RS) também se manifestaram nas redes. Chrisóstomo distorceu a fala, afirmando que Trump teria chamado Bolsonaro de “grande homem”, o que não ocorreu. Evair disse que o encontro foi um “fiasco na cara do Lula”, enquanto Bibo Nunes acusou o petista de “desgoverno” e afirmou que Trump “não cederia um milímetro” na pauta política.
Hugo Motta defende a diplomacia - Contrapondo o tom beligerante, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), elogiou a retomada do diálogo entre Brasil e Estados Unidos. “Fico feliz em ver que o diálogo e a diplomacia voltam a ocupar o centro das relações entre Brasil e Estados Unidos”, escreveu no X.
Motta ainda ressaltou que o Legislativo está “à disposição” da diplomacia brasileira para debater pautas comerciais e que “quando líderes escolhem conversar, a História agradece”.
Com o compromisso assumido por Lula e Trump, os dois países iniciarão a revisão da política tarifária já nas próximas horas. A reunião entre representantes das chancelarias e ministérios econômicos dos dois governos terá como foco os produtos atingidos e o impacto das tarifas na relação bilateral.
O governo brasileiro acredita que a retomada do diálogo pode levar à suspensão ou reformulação do tarifaço, que afeta fortemente exportações de commodities, bens industriais e produtos agrícolas.
