
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou como um “avanço concreto” o início das negociações entre o Brasil e os Estados Unidos para reverter o tarifaço imposto às exportações brasileiras. A declaração foi feita neste domingo (26), após o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump durante um evento na Malásia.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, ressaltou que a retomada do diálogo entre os dois governos sinaliza uma possível solução para a crise comercial instaurada desde julho deste ano. “O anúncio do início das negociações sobre o tarifaço, com disposição real das duas partes para alcançar um acordo, é um passo relevante. Acreditamos que teremos uma solução que vai devolver previsibilidade e competitividade às exportações brasileiras, fortalecendo a indústria e o emprego no país”, afirmou Alban em nota à imprensa.
Negociações iniciam neste domingo - Logo após o encontro entre os chefes de Estado, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou que a primeira rodada de negociações diplomáticas para revisão das tarifas ocorre ainda neste domingo. A conversa será conduzida pelo próprio chanceler, com apoio do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Márcio Fernando Elias Rosa.
Do lado norte-americano, participam da negociação o secretário de Estado, Marco Rubio, e o secretário do Tesouro, Scott Bessent. O diálogo visa amenizar os impactos da taxação de 50% imposta pelo governo dos EUA a todos os produtos brasileiros exportados para o país.
O tarifaço, anunciado por Trump em julho, atingiu fortemente o setor exportador brasileiro, especialmente nos segmentos agrícola, industrial e de commodities. Além disso, a medida veio acompanhada de retaliações diplomáticas, como a revogação de vistos de viagem de ministros brasileiros e sanções adicionais que aprofundaram a tensão bilateral.
A resposta brasileira tem se concentrado na busca por uma solução diplomática, que agora ganha um novo capítulo com o início das negociações. A expectativa do setor produtivo é que a retomada do diálogo resulte na suspensão das tarifas, permitindo a recuperação das exportações e da competitividade da indústria nacional.
Para a CNI, a reversão do tarifaço é essencial para restaurar a previsibilidade nos negócios internacionais. Ricardo Alban destacou que a competitividade brasileira depende da manutenção de relações comerciais estáveis com os Estados Unidos, principal parceiro econômico do Brasil fora da América do Sul.
A entidade acompanha de perto os desdobramentos das negociações e vê com otimismo o envolvimento direto dos presidentes e das principais autoridades econômicas dos dois países. “Trata-se de uma agenda prioritária para o setor industrial, com impacto direto sobre o emprego e o crescimento do país”, pontuou Alban.
Cenário internacional e estratégia brasileira - O encontro entre Lula e Trump na Malásia ocorre em um momento de grande tensão nas relações internacionais, marcado por disputas comerciais, protecionismo e instabilidade política. A reaproximação entre os dois líderes representa uma tentativa do Brasil de reposicionar-se no cenário global com uma diplomacia ativa e pragmática.
Segundo fontes do Itamaraty, o governo brasileiro adotará uma postura firme, mas conciliadora, nas negociações. A ideia é mostrar que a taxação unilateral prejudica não apenas o Brasil, mas também consumidores e empresas americanas que dependem de insumos brasileiros.
Caso haja avanços na primeira rodada de conversas, as equipes técnicas devem iniciar uma série de encontros periódicos para debater ponto a ponto as tarifas aplicadas. Ainda não há prazo para conclusão do processo, mas o fato de ambas as partes se mostrarem dispostas ao diálogo já é considerado um sinal positivo.
A diplomacia brasileira também trabalha para reverter as sanções diplomáticas paralelas, como a revogação de vistos, vista como uma afronta às relações institucionais entre os países. Esse tema deve ser tratado em uma etapa posterior das negociações.
