
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveitou o fim de semana para enviar um recado direto ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em vídeo divulgado na noite de sábado (16), o petista aparece plantando uma muda de uva Vitória no gramado do Palácio da Alvorada, em Brasília, e comentou a decisão americana de impor tarifa de 50% sobre alguns produtos brasileiros — entre eles, a própria fruta.

“Não adianta o presidente Trump taxar nossa uva. Se necessário, ela vai para a merenda escolar”, declarou Lula, enquanto manuseava a terra. Segundo ele, o governo pretende redirecionar alimentos que perderam competitividade no mercado externo para programas sociais, em especial a alimentação escolar.
Lula, Donald Trump, Palácio do Alvorada, tarifa EUA Brasil, uva Vitória, merenda escolar, sanções EUA, Alexandre Padilha, Mais Médicos
Recado diplomático e crítica às sanções - O gesto simbólico de Lula foi acompanhado de um apelo político. O presidente disse esperar que Trump visite o Brasil e conheça o que chamou de “Brasil verdadeiro”. “Estou plantando comida, e não plantando violência e ódio. Eu espero que um dia a gente possa conversar, presidente Trump, para o senhor aprender a qualidade do povo brasileiro”, afirmou.
As falas acontecem em meio a uma escalada de tensões entre os dois países. Desde o mês passado, quando Trump anunciou as novas tarifas sobre exportações brasileiras, ambos têm trocado provocações públicas.
Na quinta-feira (14), Trump classificou o Brasil como “um parceiro comercial terrível” e voltou a criticar a condução da Justiça brasileira em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que será julgado por tentativa de golpe após as eleições de 2022. O americano reforçou seu apoio ao político brasileiro, dizendo tratá-lo como “um homem honesto”.
Sanções diplomáticas e impactos no governo - Além das tarifas, Washington adotou medidas diplomáticas mais duras contra autoridades brasileiras. O governo dos Estados Unidos suspendeu os vistos do ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), de sua esposa e da filha de 10 anos. A restrição também já havia atingido Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário de Atenção Especializada à Saúde, e Alberto Kleiman, ex-integrante da pasta.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, justificou as sanções ao citar o programa “Mais Médicos”, criado durante o governo Dilma Rousseff, quando Padilha comandava a Saúde. Segundo Rubio, a iniciativa teria motivado parte das medidas.
Agricultura como resposta política - A escolha de Lula pela uva não foi por acaso. Além de estar entre os itens tarifados, a fruta simboliza a tentativa do governo brasileiro de transformar a crise em oportunidade. O Palácio do Planalto avalia reforçar a compra de alimentos antes destinados ao mercado externo para fortalecer programas de combate à fome e segurança alimentar.
Com a imagem do presidente ajoelhado na terra e destacando o uso social da produção, a cena buscou contrastar com as críticas vindas de Washington. O gesto também faz parte da estratégia de Lula de reforçar sua imagem de proximidade com o povo e de apresentar o Brasil como um país disposto ao diálogo internacional, mas firme na defesa de seus interesses.
Relações em turbulência - O episódio reflete um novo período de turbulência nas relações Brasil-Estados Unidos. Enquanto Lula tenta manter uma postura conciliadora, reforçando a diplomacia multilateral com países como China, Rússia e Venezuela, Trump tem endurecido sua retórica contra Brasília.
No centro da disputa, estão não apenas as tarifas comerciais, mas também questões políticas internas do Brasil, como o julgamento de Bolsonaro e a condução de programas sociais criados por governos do PT.
Para Lula, plantar uva no Alvorada foi mais do que um gesto simbólico: foi uma resposta política com raízes na terra e no discurso de soberania alimentar.
