
A Polícia Federal revelou nesta segunda-feira (27) novos detalhes da Operação Sisamnes, que apura um esquema de venda de sentenças judiciais envolvendo lobistas, advogados e servidores de tribunais superiores, com foco no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
As investigações identificaram diálogos e movimentações financeiras milionárias entre os principais envolvidos, como o advogado Roberto Zampieri — assassinado em dezembro de 2023 — e o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves. Em mensagens trocadas via WhatsApp, Zampieri sugere o pagamento de R$ 20 milhões para influenciar decisões "lá em cima", referência que a PF atribui ao STJ.
O relatório da PF, com 426 páginas, descreve um “mercado paralelo de influência”, onde contratos de advocacia seriam usados como fachada para negociar decisões judiciais. A investigação apura a atuação de assessores ligados aos gabinetes das ministras Isabel Gallotti e Nancy Andrighi, e do ministro Og Fernandes, embora os magistrados não sejam alvos diretos do inquérito.
Entre 2019 e 2023, Zampieri movimentou mais de R$ 12 milhões em saques em espécie e transferiu mais de R$ 7 milhões para empresas ligadas a Andreson. Há registros de compras de artigos de luxo, como relógios Rolex, e depósitos com cheques fracionados, prática comum em esquemas que tentam evitar o rastreamento bancário.
Três servidores já são formalmente investigados: Daimler Alberto de Campos (ex-assessor de Gallotti), Márcio José Toledo Pinto (também ligado ao gabinete da ministra) e Rodrigo Falcão (ex-chefe de gabinete de Og Fernandes). Eles são suspeitos de ajustar minutas, vazar informações e oferecer decisões judiciais em troca de propina.
Segundo a PF, o esquema operava com um modelo híbrido: de fora para dentro, com empresários e advogados buscando corromper agentes públicos; e de dentro para fora, com assessores oferecendo decisões favoráveis como produto de negociação.
A investigação também identificou a ligação financeira entre o grupo Fource Participações, que atuava no setor de recuperação judicial, e Zampieri. Só da Fource foram identificadas 43 transações com o advogado, somando R$ 14,5 milhões.
Por meio de suas assessorias, os ministros Og Fernandes, Isabel Gallotti e Nancy Andrighi afirmaram desconhecer os fatos e reiteraram a disposição de colaborar com as investigações. A defesa dos servidores citados ainda não se pronunciou.
A Operação Sisamnes, nomeada em alusão a um juiz persa corrompido na mitologia, é conduzida sob sigilo pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal.
