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LEI MAGNITSKY

PT aciona STF para impedir que bancos apliquem sanções dos EUA contra Alexandre de Moraes

Lindbergh Farias pede que instituições financeiras brasileiras não cumpram decreto de Trump que bloqueia bens do ministro com base na Lei Magnitsky

1 agosto 2025 - 10h03Juliano Galisi
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), registrou uma ação cautelar para impedir restrições de serviços bancários a Alexandre de Moraes, do STF
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), registrou uma ação cautelar para impedir restrições de serviços bancários a Alexandre de Moraes, do STF - (Foto: Wilton Junior/Estadão)

O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), protocolou nesta sexta-feira, 1º de agosto, uma ação cautelar no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir que bancos e instituições financeiras brasileiras apliquem, mesmo que indiretamente, as sanções impostas ao ministro Alexandre de Moraes pelo governo dos Estados Unidos.

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A medida ocorre após a inclusão de Moraes na lista de sancionados pela Lei Magnitsky, um dispositivo legal norte-americano voltado para punir indivíduos acusados de violações graves de direitos humanos. O decreto, assinado pelo presidente Donald Trump na última quarta-feira, 30, impõe restrições de entrada nos Estados Unidos e bloqueio de bens do magistrado. A sanção ainda proíbe que empresas com vínculos nos EUA mantenham relações comerciais com o ministro, o que, na prática, pode afetar diretamente suas movimentações financeiras, inclusive no Brasil.

Na petição encaminhada ao STF, Lindbergh Farias argumenta que o cumprimento das sanções norte-americanas por bancos que operam no território brasileiro representaria uma “transferência de soberania incompatível com a Constituição Federal”.

O parlamentar pede que a Corte proíba expressamente "qualquer instituição financeira nacional de executar, replicar ou dar eficácia material à sanção aplicada pelo governo estrangeiro". A medida visa evitar que o bloqueio de contas, cartões ou outros serviços bancários atinja Moraes por ação indireta de empresas brasileiras, sob o pretexto de cumprir regras internacionais impostas por outro país.

"Trata-se de uma interferência inadmissível sobre uma autoridade da República. A soberania brasileira não pode se submeter a decretos estrangeiros, ainda mais quando dirigidos contra um ministro da nossa Suprema Corte", afirmou Lindbergh à imprensa.

A decisão do governo Trump gerou forte repercussão internacional por se tratar da primeira aplicação da Lei Magnitsky contra uma autoridade de um país democrático. Criada em 2012 e originalmente voltada a violadores de direitos humanos na Rússia, a norma foi expandida para atingir criminosos e agentes estatais de qualquer nacionalidade envolvidos em práticas como tortura, tráfico humano e assassinatos extrajudiciais.

No caso de Alexandre de Moraes, não há acusação formal ou investigação internacional relacionada a esses crimes. A decisão norte-americana é vista por especialistas como uma medida política com motivações ideológicas, já que Moraes é o relator de ações no STF contra figuras alinhadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e protagonistas dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A sanção foi duramente criticada por William Browder, ativista de direitos humanos e idealizador da Lei Magnitsky. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Browder classificou a decisão como um “momento vergonhoso” da diplomacia americana e lamentou o uso político da legislação.

“A Lei Magnitsky foi criada para responsabilizar pessoas envolvidas em crimes atrozes contra a humanidade. Utilizá-la contra um juiz de um país democrático como o Brasil é uma distorção completa do seu propósito”, afirmou o ativista.

A ação cautelar apresentada por Lindbergh Farias marca o primeiro movimento institucional dentro do país para blindar Alexandre de Moraes contra os impactos práticos da sanção. No Congresso Nacional, a decisão do governo Trump foi alvo de repúdio por parte de parlamentares da base governista, que enxergam na medida uma tentativa de desestabilizar o sistema judiciário brasileiro.

Integrantes da oposição, por outro lado, comemoraram a sanção como suposto “reconhecimento internacional de abusos do Judiciário”. Contudo, não apresentaram qualquer evidência jurídica que sustente a acusação.

A inclusão de Moraes na lista da Lei Magnitsky coloca em xeque a posição de instituições financeiras multinacionais que operam no Brasil e também mantêm operações nos Estados Unidos. Essas instituições podem enfrentar um dilema: seguir as sanções para preservar vínculos com o sistema financeiro americano ou atender a determinação judicial brasileira de garantir acesso integral aos serviços bancários ao ministro.

O risco, segundo advogados ouvidos pela reportagem, é que uma eventual adesão automática à medida dos EUA possa configurar violação constitucional e resultar em punições administrativas, cíveis e até criminais às instituições envolvidas.

Com a ação protocolada por Lindbergh, o Supremo Tribunal Federal deve se manifestar oficialmente sobre o alcance das sanções estrangeiras em solo nacional, em especial quando aplicadas contra autoridades da República.

A expectativa é que o relator do caso, ainda a ser designado, analise o pedido de urgência nas próximas horas ou dias, diante da relevância institucional e do risco de impactos imediatos.

A sanção contra Moraes também expõe uma nova fissura nas relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. O Itamaraty ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, mas fontes do Ministério das Relações Exteriores confirmam que há desconforto com a decisão de Washington. A expectativa é que o governo brasileiro, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), também atue em defesa do ministro, caso a situação se agrave.

O Palácio do Planalto evita comentários públicos, mas monitora com atenção os desdobramentos do caso, especialmente os efeitos que a decisão de Trump pode ter sobre outros integrantes do Judiciário ou do governo.

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