
O deputado estadual Pedro Kemp (PT) subiu à tribuna da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul nesta terça-feira (4) para criticar duramente o que chamou de “uso político” da Operação Contenção, realizada nos Complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos. Para Kemp, a ação liderada pelo governador Cláudio Castro (PL) teve motivações eleitorais e midiáticas.
“O que aconteceu no Rio de Janeiro é um filme que já vimos antes. Resolveu o problema do crime organizado? Não. O crime precisa ser combatido com inteligência, articulação e enfrentamento das finanças. Os tubarões do crime não estão nos barracos, estão nas mansões”, afirmou.
Comparação entre operações expõe contradições - Kemp comparou a operação no Rio com a ação deflagrada pela Polícia Federal em São Paulo no dia 28 de agosto, chamada “Carbono Oculto”. Essa operação mirou o Primeiro Comando da Capital (PCC) em fraudes bilionárias no setor de combustíveis. Mesmo com um arsenal financeiro envolvido — mais de R$ 52 bilhões movimentados — a ação ocorreu sem mortes, inclusive em endereços de luxo na Avenida Faria Lima.
“Quantos tiros aconteceram na Faria Lima? Nenhum. Quantas mortes? Nenhuma. A polícia encontrou mais de R$ 4 bilhões em dinheiro do crime organizado. Isso prova que é possível combater o crime com eficácia e sem tragédias”, destacou Kemp.
PEC da Segurança e falta de apoio dos governadores - O deputado também criticou os governadores de direita, que, segundo ele, recusam apoio ao projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que cria o Sistema Nacional de Segurança Pública. A proposta está em tramitação no Congresso, mas não conta com a articulação dos estados.
“Se os governadores querem mesmo combater o crime organizado com seriedade, que apoiem a PEC da Segurança. O governador do Rio foi o primeiro a se posicionar contra e depois vai à TV dizer que está sozinho?”, questionou. Para Kemp, o combate ao crime exige políticas integradas, com fortalecimento das corporações e políticas sociais nos territórios mais vulneráveis.
Cobrança ao governador de MS por reunião política - Kemp ainda criticou a presença do governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, em uma reunião com outros governadores alinhados ao campo conservador, após a operação no Rio. Segundo o parlamentar, o encontro teve caráter político, e não técnico.
“Qual o objetivo do governador do MS nessa reunião? Aqui não temos feminicídios? Não temos conflitos indígenas? A prioridade deveria ser cuidar dos nossos problemas locais e apoiar soluções estruturais junto ao governo federal”, afirmou.
O deputado petista concluiu seu discurso destacando que as mortes no Rio não podem ser banalizadas. “A operação deixou 121 mortos, e o líder do Comando Vermelho, alvo principal da ação, continua foragido. Isso não é sucesso, é fracasso. Precisamos de outra abordagem, que inclua inteligência, articulação entre as polícias e políticas públicas nos morros: água, luz, educação, saúde, dignidade”, declarou.


