
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (4) que a reunião com o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, foi motivada por uma provocação feita pelo governo brasileiro após conversa telefônica entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, ocorrida na última terça-feira (2).
Durante o encontro, realizado na sede do Ministério da Fazenda, em Brasília, Haddad entregou a Escobar documentos detalhando as primeiras investigações da Operação Poço do Lobato, deflagrada pela Receita Federal no final de novembro, que apura crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro com triangulação internacional envolvendo fundos registrados nos Estados Unidos.
"Foi uma iniciativa dos americanos, a partir da nossa provocação. Lula e Trump conversaram, e o presidente brasileiro se comprometeu a enviar um documento. Fizemos isso e, como consequência, a embaixada nos procurou", afirmou o ministro.
Lavagem de dinheiro com base em Delaware - Segundo Haddad, a documentação entregue à embaixada trata da movimentação suspeita de fundos e empresas criadas no estado de Delaware, nos EUA, conhecido por oferecer vantagens fiscais e baixa transparência societária. O ministro já havia mencionado, no dia da operação, que organizações criminosas brasileiras estariam utilizando o estado norte-americano como espécie de “paraíso fiscal”.
“São dezenas de empresas e fundos que são abertos fora do Brasil... é uma operação de triangulação internacional gravíssima”, alertou.
Cautela com a troca de informações - O ministro explicou que o material entregue está sendo traduzido e que o envio oficial às autoridades americanas ocorrerá por canais formais, a fim de evitar qualquer tipo de nulidade jurídica. "Temos que ter toda a cautela de como encaminhar esse material para que não haja questionamento. A equipe está cuidando para que tudo aconteça pelos meios adequados", disse.
A proposta de cooperação entre os dois países inclui a participação ativa da Polícia Federal, Receita Federal, Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), além dos Ministérios Públicos estaduais. "A integração interna está funcionando de maneira muito satisfatória. Se os EUA se juntarem a nós, podemos ampliar ainda mais a eficácia no combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento de facções criminosas", destacou Haddad.
Receptividade e próximos passos - O ministro relatou entusiasmo por parte do diplomata americano com a iniciativa brasileira e disse que Escobar demonstrou disposição em dar retorno rapidamente. “A sensação é de que eles vão correr com o assunto. Ele ficou de elaborar uma resposta à nossa provocação e considerou a proposta brasileira muito viável”, relatou Haddad.
Escobar também apresentou ao governo brasileiro parcerias similares que os EUA já mantêm com o México. Haddad, por sua vez, ressaltou que o contexto brasileiro é diferente e que o país está em melhores condições para estruturar uma ação de combate ao crime financeiro com cooperação internacional. “Falei que nós tínhamos condição de fazer uma parceria adequada”, disse.
O envio formal da documentação será feito por intermédio do Ministério da Justiça, após a finalização da tradução. A expectativa do governo é que os EUA respondam oficialmente à proposta nas próximas semanas, reforçando os laços de cooperação bilateral.

