
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, classificou como "imprópria" a tentativa de interferência dos Estados Unidos no processo que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em declarações feitas na quarta-feira (27), durante o Fórum Empresarial Lide, em Brasília, Gilmar afirmou que seria inadequado que o Brasil exigisse a divulgação de informações sobre o caso Epstein em negociações internacionais.

"Seria impróprio que nós, por exemplo, exigíssemos, nas negociações, que fossem reveladas as pessoas que estão no chamado Epstein Files", afirmou Gilmar, destacando a incompatibilidade entre a diplomacia e a interferência em processos judiciais internos.
O Epstein Files se referem a documentos relacionados ao financista Jeffrey Epstein, que foi acusado de comandar uma rede internacional de exploração sexual de menores. O caso gerou polêmica em torno de uma lista secreta de clientes de Epstein, que supostamente incluía personalidades influentes, e muitos acreditam que a lista de Epstein possa envolver figuras de grande poder político e econômico.
Gilmar Mendes também se referiu à decisão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que, em julho, optou por não divulgar mais nenhum arquivo relacionado à investigação sobre Epstein. Além disso, o presidente dos EUA, Donald Trump, havia prometido, em sua campanha eleitoral, divulgar os arquivos, caso fosse eleito.
O ministro do STF fez uma clara distinção entre questões comerciais e a independência do Judiciário brasileiro. "Negociações comerciais podem se fazer a toda hora, mas tentar incluir o papel institucional do País e a independência do Judiciário não faz sentido algum", declarou Gilmar.
O ministro também aproveitou a ocasião para expressar seu apoio a Alexandre de Moraes, colega do STF, que tem sido alvo de sanções do governo dos EUA. Essas sanções, que envolvem a taxação de produtos brasileiros e a revogação de vistos de autoridades brasileiras nos EUA, foram impostas devido à atuação de Moraes como relator no processo em que Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado.
Gilmar destacou que a história reconhecerá o papel de Alexandre de Moraes na defesa da democracia. "Se hoje estamos em um ambiente democrático, devemos muito ao ministro Alexandre. Apoio de maneira inquestionável, e sei que a história vai lhe fazer justiça", afirmou o decano do STF.
O julgamento de Bolsonaro e de outros envolvidos na tentativa de golpe de Estado está previsto para começar no dia 2 de setembro na Primeira Turma do STF. Gilmar Mendes, embora tenha se manifestado sobre o caso, não integra o colegiado responsável por esse julgamento.
