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OITO DE JANEIRO

General Mário Fernandes confirma autoria de plano golpista, mas nega envolvimento com outros

Durante depoimento ao STF, ex-secretário-geral da Presidência de Bolsonaro revelou detalhes sobre o plano Punhal Verde e Amarelo, mas afastou qualquer participação ativa de aliados

25 julho 2025 - 06h07Nino Guimarães, Juliano Galisi e Weslley Galzo
General Mário Fernandes confirma autoria de plano golpista, mas nega envolvimento com outros
General Mário Fernandes confirma autoria de plano golpista, mas nega envolvimento com outros - Foto: Reprodução Internet | CNN Brasil

Na última quinta-feira, 24, o general da reserva Mário Fernandes depôs ao Supremo Tribunal Federal (STF) e confirmou ser o autor de um plano golpista denominado "Punhal Verde e Amarelo". No entanto, ele afirmou que a ideia nunca foi compartilhada com outras pessoas. O plano, conforme a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), visava a execução ou sequestro de figuras importantes do governo, como o ministro do STF Alexandre de Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

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"Não passa de um pensamento digitalizado. Hoje eu me arrependo disso, era apenas um pensamento de um militar, que não foi compartilhado com ninguém", disse Fernandes, que, na gestão de Jair Bolsonaro, foi número dois da Secretaria-Geral da Presidência.

O general também relatou que chegou a imprimir o documento do plano, mas "rasgou" o papel imediatamente após a leitura, reafirmando que não compartilhou a informação com ninguém.

Responsabilidades e 'Neutralização'

A Procuradoria sustenta que Fernandes teve participação em ações de "monitoramento e neutralização" de autoridades, ao lado de Marcelo Costa Câmara, coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A PGR acusa o general de manter interlocução com líderes envolvidos nos atos de 8 de janeiro, quando bolsonaristas invadiram os prédios dos Três Poderes em Brasília.

Ao ser interrogado, Fernandes também admitiu ser o autor de uma minuta para a criação de um "gabinete de crise", que, segundo ele, teria como objetivo apenas fornecer "assessoramento" ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em caso de crise. A PGR, no entanto, apontou que a intenção era estabelecer diretrizes estratégicas para o gerenciamento de uma crise institucional, com o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, hoje preso preventivamente, à frente do gabinete.

De acordo com a denúncia, o "gabinete de crise" seria assessorado pelo próprio Fernandes, enquanto a assessoria de Relações Institucionais ficaria sob responsabilidade de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro para Assuntos Internacionais.

Visitas aos acampamentos bolsonaristas e negação de contato com líderes

Fernandes também relatou que visitou entre cinco e sete vezes os acampamentos bolsonaristas em frente aos quartéis, onde manifestantes pediam uma intervenção militar. Para ele, aqueles momentos eram apenas "uma festa cívica" de pessoas "humildes", e negou ter tido qualquer contato com os líderes do movimento, como sugerido pela denúncia da PGR.

A investigação divide os réus em dois núcleos: o "núcleo 2", composto por aqueles que gerenciaram as ações golpistas dentro do governo, e o "núcleo 4", responsável pela disseminação de desinformação e notícias falsas, visando desacreditar o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas.

Minuta do golpe e alegações de Filipe Martins

Outro réu do "núcleo 2", Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, negou ter criado qualquer versão da famosa "minuta do golpe", que previa meios para anular os resultados das eleições de 2022. Martins afirmou que só tomou conhecimento do documento pela imprensa. Ele também foi citado na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que acusou Martins de ter entregue a minuta ao então presidente.

Apesar de ser mencionado na lista de passageiros de um voo presidencial rumo a Orlando em dezembro de 2022, Martins negou que tenha viajado para os Estados Unidos, alegando que nunca saiu do país. Ele se considera um "preso político", alegando que a sua prisão preventiva, convertida posteriormente em medidas cautelares, é injusta.

Disputa de versões e questionamentos no depoimento de Martins

Durante seu depoimento, Martins se envolveu em discussões com o juiz responsável pela condução dos interrogatórios, Rafael Henrique Janela Tamai Rocha. Quando questionado sobre o conteúdo da minuta do golpe, Martins tentou explicar a sua versão, comparando o "gabinete de crise" a uma seleção de jogadores de futebol, e afirmando que sua menção ao termo não significava que ele tivesse a autoridade para concretizá-lo.

Marcelo Câmara e a negação de envolvimento no golpe

Marcelo Costa Câmara, outro réu do "núcleo 2", também negou qualquer participação no plano golpista. Ele alegou que o monitoramento das autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes, foi feito por Mauro Cid e afirmou ter sido "usado" durante o processo. Câmara admitiu que o codinome "professora", identificado pela Polícia Federal, referia-se ao ministro do STF, mas classificou-o como uma "brincadeira", que não tinha o objetivo de ocultar a identidade de ninguém.

O Supremo Tribunal Federal segue ouvindo os réus do caso relacionado aos atos golpistas, com a análise das ações e envolvimentos de diferentes figuras do governo Bolsonaro. As investigações continuam em andamento.

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