
O clima na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que julga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus por tentativa de golpe de Estado, está longe de ser harmonioso. O ministro Luiz Fux, ao longo de mais de 12 horas de voto na quarta-feira (10), provocou mal-estar entre os colegas ao romper com a dinâmica informal de brevidade e cordialidade, além de revelar um acordo interno que previa silêncio durante os votos.

Fux votou pela absolvição de Bolsonaro, e a forma como conduziu sua exposição — com repetidas pausas e sem aceitar apartes — foi recebida com irritação por alguns ministros, especialmente Flávio Dino, que chegou a fazer um comentário irônico durante a sessão. A tensão, contida durante o julgamento, pode explodir nesta quinta-feira (11), quando os votos de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin devem selar o destino do ex-presidente e seus aliados.
Rusgas internas e silêncio forçado
Durante a sessão anterior, Fux repreendeu Flávio Dino por interrompê-lo, revelando que havia um acordo entre os ministros para que não houvesse interrupções durante a leitura dos votos. Dino, no entanto, reagiu com uma provocação sutil, que expôs o desconforto: "Então, Vossa Excelência vai condenar Cid e livrar o resto?", disse, referindo-se ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o único que Fux decidiu condenar.
Na ocasião, a maioria dos ministros permaneceu em silêncio, em respeito ao acordo citado por Fux. Mas nesta quinta, o tom da sessão promete mudar. Cármen Lúcia, que será a primeira a votar, já demonstrava incômodo durante o voto do colega, trocando cochichos frequentes com Alexandre de Moraes, relator da ação.
Expectativa de confronto direto
Advogados que acompanham o julgamento e servidores com trânsito no STF afirmam que a tendência é de que os ministros, especialmente Alexandre de Moraes e Flávio Dino, usem os votos desta quinta-feira para fazer os apartes que não puderam ser feitos no longo discurso de Fux.
A cordialidade silenciosa que marcou a última sessão pode dar lugar a um debate mais direto entre os ministros, marcando suas divergências em público. A expectativa é que, com os votos de Cármen e Zanin, o julgamento se encerre nesta sexta-feira (12), com um possível placar de 4 a 1 pela condenação de Bolsonaro.
Fux pode se isolar após cobrança por silêncio
A postura de Fux — tanto pelo voto extenso quanto pela exigência de silêncio dos colegas — causou ressentimento interno. Agora, com os demais ministros prestes a votar, há uma expectativa de que ele seja poupado de novos embates diretos, mas acabe isolado na posição de único voto dissidente até o momento.
Entre os bastidores do STF, o voto de Fux foi lido não apenas como jurídico, mas como uma tentativa de marcar posição política e institucional no tribunal. No entanto, o preço pode ser alto: desentendimentos com colegas, perda de alinhamento com a Turma e maior tensão no ambiente interno da Corte.
