
O futuro do Ministério das Mulheres deve ser decidido ainda nesta segunda-feira (5), com a provável saída de Cida Gonçalves do comando da pasta. A ex-ministra do Desenvolvimento Social, Márcia Lopes, já se encontra em Brasília e é o nome mais cotado para assumir o posto. A mudança ocorre em meio a um cenário de desgaste político e críticas internas à atual gestão.
Márcia foi convidada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o ministério ainda em março. Desde então, aguardava o aval final do Palácio do Planalto. Com a proximidade da viagem de Lula à Rússia marcada para os dias 8 a 10 de maio , a expectativa é que a nomeação seja anunciada antes da partida presidencial.
Integrantes do governo consideram a troca uma definição já tomada. Nos bastidores, a permanência de Cida vinha sendo questionada desde o início do ano, com relatos de baixa articulação política e pouca visibilidade da pasta.
Márcia Lopes, ex-ministra do Desenvolvimento Social, chega a Brasília para assumir comando do Ministério das Mulheres
Márcia Lopes tem reunião prevista com o presidente nesta segunda, e, segundo fontes próximas ao governo, a posse pode ocorrer ainda hoje, em um encontro reservado com Lula. A cerimônia oficial com transmissão pública, no entanto, deve ficar para depois do retorno da viagem internacional.
A escolha de Márcia reforça a tentativa de reestruturação da pasta. Assistente social com experiência no Executivo, ela é vista como nome técnico e de confiança de Lula. Márcia já comandou o Ministério do Desenvolvimento Social durante o segundo mandato do presidente.
Conversa com a atual ministra selou saída - Na última sexta-feira (2), Lula conversou pessoalmente com Cida Gonçalves por cerca de meia hora. Embora o Ministério das Mulheres tenha divulgado que a pauta do encontro foi a implementação da lei da igualdade salarial, fontes do Planalto afirmam que a ministra foi avisada de sua substituição.
Cida deixa o governo em meio a críticas e conflitos internos. Um dos principais pontos de atrito envolve sua relação com a primeira-dama, Janja da Silva. Em depoimento à Comissão de Ética da Presidência da República, a ministra afirmou que, por vezes, interrompia compromissos oficiais para atender demandas de Janja com quem tem relação próxima , além de ter ignorado chamados de ministros como Alexandre Padilha e Márcio Macêdo.
Como já noticiado pelo portal A Crítica, Cida também foi alvo de um processo na Comissão de Ética por suspeita de assédio moral. A denúncia, posteriormente arquivada, acusava a ministra de oferecer apoio financeiro a uma servidora para que ela se candidatasse nas eleições de 2026, em troca de silêncio sobre uma acusação de racismo. O episódio contribuiu para o enfraquecimento de sua permanência no governo.
Além disso, havia incômodo com a baixa presença da ministra em pautas públicas de maior relevância e com sua dificuldade de articulação dentro do governo. Fontes relataram ainda que falas consideradas "desconfortáveis" contribuíram para o desgaste junto a outros membros do primeiro escalão.
Quem é Cida? - Aparecida Gonçalves é especialista em gênero e em enfrentamento à violência contra mulheres e ativista de defesa dos direitos das mulheres há mais de 40 anos.
Natural de Clementina, interior de São Paulo, Cida Gonçalves construiu sua trajetória política em Campo Grande (MS), onde foi coordenadora do movimento popular de mulheres nas décadas de 80 e 90. Como representante desse grupo, coordenou o processo de articulação e fundação da Central dos Movimentos Populares no Brasil.
No início dos anos 2000, foi assessora da Coordenadoria à Mulher da Secretaria de Assistência Social, Cidadania e Trabalho do Estado em uma das gestões do governador Zeca, do PT.
Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, entre 2003 e 2016, foi Secretária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, atuando na construção da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio.
Foi uma das protagonistas da elaboração do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e do Programa Mulher Viver sem Violência, que tem como carro-chefe a Casa da Mulher Brasileira. Trabalhou também como consultora em políticas públicas de gênero e violência contra mulheres.
Cida Gonçalves compôs a equipe de transição do novo governo Lula que fez a análise e o diagnóstico com relação às políticas direcionadas às mulheres.

