
As recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre segurança pública foram mal recebidas pela maioria da população brasileira, inclusive entre eleitores que tradicionalmente o apoiam. De acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (12), 81% dos entrevistados discordam da frase dita por Lula na Malásia, quando afirmou que "os traficantes também são vítimas dos usuários". Entre os próprios lulistas, o índice de rejeição atinge 66%.
A frase foi dita durante viagem à Ásia, no mesmo período em que Lula se encontrou com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A repercussão foi imediata, em meio à comoção nacional gerada pela megaoperação policial no Rio de Janeiro que resultou em 121 mortes — a mais letal da história do Estado.
A impopularidade da declaração não se restringe à oposição. O levantamento mostra que 78% dos eleitores de esquerda não alinhados diretamente com o governo também discordam da fala, assim como 81% dos independentes. Apenas 14% dos brasileiros disseram concordar com o presidente nesse ponto, enquanto 5% não souberam opinar.
O levantamento foi realizado entre os dias 6 e 9 de novembro, com 2.004 entrevistas presenciais em todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A pesquisa também mediu a percepção dos brasileiros sobre a operação policial no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, que terminou com um saldo recorde de mortos. Segundo a Quaest, 67% dos brasileiros aprovam a ação, enquanto 25% a desaprovam e 8% não opinaram.
O alto índice de aprovação à operação expõe o contraste com as declarações do presidente. Na última terça-feira (4), Lula classificou como "desastrosa" a ação da polícia fluminense — declaração que novamente dividiu opiniões.
Para 57% dos brasileiros, o presidente errou ao criticar a operação policial, enquanto 38% disseram concordar com ele. Os números revelam uma divisão clara entre as bases eleitorais. Entre os eleitores que se identificam como lulistas, 57% apoiam a fala de Lula, mas 38% discordam. O apoio é ainda maior entre a esquerda não lulista, onde 67% concordam com a crítica à operação. Já entre independentes, o apoio cai para 38%, e entre eleitores da direita, é de apenas 15%. No universo bolsonarista, o índice é ainda menor: 19%.
As falas de Lula e a tensão em torno da segurança pública impactaram os índices de popularidade do governo. Pela primeira vez desde maio, a avaliação da gestão federal teve uma oscilação negativa. A desaprovação subiu de 49% para 50%, enquanto a aprovação caiu de 48% para 47%.
O percentual de brasileiros que considera o governo "positivo" recuou de 33% para 31%, enquanto a avaliação "negativa" oscilou de 37% para 38%. Outros 28% consideram o governo regular.
A piora nos índices ocorre num momento em que a segurança pública volta a ser o principal tema de preocupação nacional. Em novembro, 38% dos entrevistados disseram considerar a violência o maior problema do país — um salto significativo em relação aos 30% registrados em outubro.
Historicamente, o tema da segurança pública tem sido explorado com mais eficácia por adversários políticos do campo conservador. A dificuldade do governo em responder à demanda crescente por ações mais eficazes nesse setor acende um alerta dentro do Planalto.
A avaliação de que os traficantes também são vítimas foi vista como uma tentativa de abordagem humanitária, mas, diante do aumento da violência e da demanda social por medidas duras, a estratégia comunicacional se revelou ineficaz, ao menos neste momento.

