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Flávio Dino critica "deserto institucional" e nega impacto financeiro de sua decisão

Em evento do TST, ministro do STF destaca a omissão de outros poderes e ironiza sobre a desvalorização dos bancos após sua decisão sobre leis estrangeiras

20 agosto 2025 - 17h15Fellipe Gualberto
Flávio Dino admite tentação por ativismo judicial, mas nega que impacto de sua decisão que blindou Moraes.
Flávio Dino admite "tentação" por ativismo judicial, mas nega que impacto de sua decisão que blindou Moraes. - (Foto: Rosinei Coutinho/STF)
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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, afirmou nesta quarta-feira, 20, que o Brasil atravessa um "deserto institucional", o que tem levado o Judiciário a ser constantemente acionado para resolver questões que, segundo ele, deveriam ser tratadas por outros poderes. Dino comentou o cenário atual durante a 1ª Semana Nacional dos Precedentes Trabalhistas, promovida pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). O ministro ressaltou que a omissão do Executivo e do Legislativo contribui para a "tentação" de ativismo judicial.

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"É esse deserto institucional que o Brasil atravessa que chama o Judiciário ao hiperativismo. Porque, vamos convir, muita coisa que deveria ser resolvida pelos outros, não é?", afirmou Dino, questionando o papel dos outros poderes na resolução de questões políticas e sociais.

Dino também usou uma analogia religiosa ao comparar o ativismo judicial à "tentação satânica", citando a passagem bíblica de Jesus Cristo no deserto, e explicou que o STF tem sido chamado a intervir em diversas situações.

Em relação à decisão que impediu a validade de leis estrangeiras no Brasil sem a aprovação da Justiça brasileira, que gerou forte repercussão no mercado financeiro, Dino minimizou as consequências, ironizando sobre seu impacto. “É claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu proferi uma decisão ontem e antes de ontem que dizem que derrubou os mercados. Não sabia que eu era tão poderoso”, disse o ministro.

A decisão de Dino, proferida no dia 18, determinou que decisões judiciais estrangeiras só podem ser executadas no Brasil após homologação ou por meio de mecanismos de cooperação internacional. O ministro deu caráter vinculante à medida, o que na prática implica que o ministro Alexandre de Moraes possa recorrer à Corte para evitar a aplicação da Lei Magnitsky contra ele. Esta lei, imposta pelos Estados Unidos, prevê o bloqueio de contas bancárias e o impedimento de acesso a serviços de empresas americanas, sendo aplicada ao ministro Moraes após articulações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para bloquear o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Após a decisão, as ações de grandes bancos como Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e BTG Pactual caíram, resultando em uma perda de R$ 41,98 bilhões em valor de mercado. Temendo represálias internacionais caso não cumpram as sanções, o setor financeiro busca interlocutores no STF para entender como proceder.

Na terça-feira, 19, Dino reiterou a decisão e esclareceu que a exigência de homologação para cumprir decisões estrangeiras se limita aos tribunais de outros países e não afeta tribunais internacionais. "Trata-se de decisão que reitera conceitos básicos e seculares, destinada a proteger o Brasil — abrangendo suas empresas e cidadãos — de indevidas ingerências estrangeiras no nosso território", afirmou o ministro em documento oficial, reforçando que sua medida visa garantir a segurança jurídica no país.

Quando questionado sobre a desvalorização dos bancos, Dino respondeu de forma categórica: "A gente baliza e interpreta a lei. Ontem e hoje me perguntam: 'E agora? O que vai acontecer com os mercados?' E eu digo: 'E é o Supremo que vai fixar o valor de ação no mercado? Não'". Assim, Dino se distanciou de qualquer responsabilidade sobre os efeitos econômicos da decisão, defendendo a atuação do STF na interpretação e aplicação da lei.

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