A tensão interna no PL ganhou força nesta segunda-feira (1º) após a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro criticar, em público, a articulação do partido com o ex-governador Ciro Gomes para a disputa ao Senado pelo Ceará em 2026. A reação dela ocorreu durante um comício em Fortaleza, onde classificou a aliança como “precipitada”, apontando diretamente para o deputado André Fernandes (PL-CE), responsável por conduzir o movimento no estado.
A fala incomodou os quatro filhos homens do ex-presidente Jair Bolsonaro, que responderam publicamente e demonstraram desconforto com a forma como Michelle atacou a articulação.
O primeiro a reagir foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ao portal Metrópoles, ele afirmou que Michelle “atropelou” o próprio marido ao contestar a estratégia partidária durante o evento.
“A Michelle atropelou o presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma como ela se dirigiu a ele, talvez nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora”, disse o senador.
A crítica de Michelle ocorreu porque Ciro Gomes foi adversário direto de Jair Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais e figura que historicamente se posiciona contra o ex-presidente.
A declaração de Flávio foi compartilhada por Carlos Bolsonaro, que escreveu que era preciso “respeitar a liderança” do pai e evitar influências externas. Jair Renan, o caçula entre os irmãos, também repostou o conteúdo, endossando a posição.
Quase uma hora depois, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também se pronunciou. Segundo ele, Fernandes não poderia ser criticado por seguir uma estratégia avalizada por Jair Bolsonaro.
“Foi injusto e desrespeitoso com o André o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mau acordo; foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder”, afirmou.
Diante da repercussão, Michelle publicou um comunicado em rede social afirmando que respeita a opinião dos enteados, mas discorda da aliança.
“Eu respeito a opinião dos meus enteados, mas penso diferente e tenho o direito de expressar meus pensamentos com liberdade e sinceridade”, escreveu.
Ela também destacou que, antes da política, se vê como “mulher, mãe e esposa”, e pediu compreensão:
“Não foi minha intenção contrariá-los. Eu, assim como eles, quero o melhor para o nosso herói, seu pai.”
Michelle ainda afirmou que não havia recebido confirmação direta do marido sobre o apoio à articulação com Ciro:
“Aqueles que defendem essa aliança são livres para continuar com ela, mas não deveriam me criticar por não aceitá-la. Eu tenho o direito de não aceitar isso, ainda que essa fosse a vontade do Jair (ele não me falou se é).”
O deputado André Fernandes, citado por Michelle no palanque, disse que não faria críticas públicas semelhantes, mas aproveitou para responder.
“Eu não falaria isso em hipótese alguma. Mas, já que a esposa do presidente diz que demos um passe errado, então digo que é uma aliança precipitada do próprio marido dela”, afirmou.
Ele declarou ainda que a articulação com Ciro Gomes foi autorizada por Jair Bolsonaro e por Carlos Bolsonaro, em reunião realizada em 29 de maio deste ano.
“O próprio presidente Bolsonaro, no dia 29 de maio, pediu para ligar para Ciro Gomes no viva-voz. Ficou acertado que apoiaríamos Ciro. Logo depois, o presidente Valdemar também concordou”, completou.
A troca de declarações expõe um novo momento de tensão dentro do PL e mostra que a movimentação para 2026 pode ampliar disputas internas entre lideranças do bolsonarismo.
