
A filiação de Ciro Gomes ao PSDB do Ceará ganhou um novo capítulo de tensão. O ex-secretário-geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Jorge, apresentou nesta semana uma proposta formal de impugnação da entrada do ex-governador no partido.

No documento enviado à cúpula tucana, Eduardo Jorge argumenta que Ciro possui "conduta pessoal indecorosa", mantém uma "notória e ostensiva hostilidade à legenda" e tem histórico de "atitudes desrespeitosas" contra lideranças do PSDB. Ele alega ainda que o político cearense é incompatível com os princípios e valores da sigla.
"O histórico de litígios judiciais contra figuras do PSDB, somado a pronúncias públicas frequentes, compõe um padrão consistente de hostilidade e desrespeito a lideranças do partido", aponta Jorge na representação.
Entre os episódios citados está a condenação de Ciro Gomes, em 2000, por danos morais a Eduardo Jorge. Durante a campanha presidencial daquele ano, o ex-ministro chamou Jorge de “corrupto” e criticou duramente o então presidente FHC. “Esse Eduardo Jorge é corrupto e trabalhava na ante-sala do presidente. É omissão. Eu acho que o Fernando Henrique não rouba, mas deixa roubar”, declarou Ciro à época. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal determinou o pagamento de R$ 3 mil como indenização ao ex-secretário.
Os ataques de Ciro ao PSDB e a Fernando Henrique se estendem por décadas. Em diferentes momentos de sua trajetória política, o ex-governador do Ceará acusou o governo tucano de “destruir o país” com a política econômica implantada nos anos 1990. Em 2001, durante outra campanha presidencial, chamou FHC de “ser desprezível” e, em 2004, disse que o ex-presidente “quebrou o Brasil três vezes”.
Para Eduardo Jorge, permitir a filiação de Ciro ao PSDB é “inadmissível” diante da história de antagonismo entre o ex-ministro e figuras centrais da sigla. “Trata-se de fato inadmissível para qualquer tucano que tenha respeito pela história desse partido e da atuação nefasta do Ciro com relação a nossos líderes históricos – como Fernando Henrique e José Serra”, afirmou Jorge no documento.
A impugnação ocorre num momento delicado para o PSDB, que busca reconstrução após perdas expressivas nas últimas eleições e vê em novas filiações uma tentativa de recuperação política. A chegada de Ciro Gomes, figura de forte presença nacional, representa uma aposta de renovação para setores do partido, mas enfrenta resistência interna, especialmente entre os tucanos históricos.
Até o momento, o PSDB nacional ainda não se pronunciou oficialmente sobre o pedido de impugnação.
