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VISTOS REVOGADOS

EUA revogam vistos de ex-integrantes do Mais Médicos e apontam vínculo com trabalho forçado de Cuba

Marco Rubio, secretário de Estado do governo Trump, sanciona brasileiros ligados ao programa; medida é vista como sinal político e levanta temores no Planalto

13 agosto 2025 - 21h00Guilherme Caetano e Felipe Frazão
O chefe da diplomaria dos Estados Unidos, Marco Rubio.
O chefe da diplomaria dos Estados Unidos, Marco Rubio. - (Foto: Kent Nishimura/The Washington Post)

A administração Trump nos Estados Unidos deu um novo passo em sua ofensiva contra regimes considerados autoritários ao revogar os vistos de Mozart Júlio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, e de Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo brasileiro e ex-dirigente da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

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A decisão, anunciada nesta quarta-feira (13) pelo secretário de Estado Marco Rubio, teve como justificativa o envolvimento dos dois brasileiros com o programa Mais Médicos, iniciativa criada em 2013 no governo de Dilma Rousseff (PT), com participação de profissionais cubanos.

Segundo Rubio, o programa representava uma forma de trabalho forçado promovida pelo regime cubano, travestido de missão médica internacional. “O Mais Médicos foi um golpe diplomático inconcebível de ‘missões médicas’ estrangeiras”, afirmou Rubio em publicação na rede social X (antigo Twitter).

Com a decisão, Mozart Sales se torna a primeira autoridade do atual governo Lula a ter visto revogado pelo governo Trump. A medida gerou apreensão entre integrantes do Executivo, que veem nela um possível início de retaliações mais amplas contra o governo brasileiro — principalmente diante das tensões políticas envolvendo os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Até o momento, além de Sales e Kleiman, apenas ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República e familiares de autoridades haviam sido alvo de sanções similares.

A resposta mais imediata veio do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que publicou uma nota em tom firme nas redes sociais:

"O Mais Médicos, assim como o Pix, sobreviverá aos ataques injustificáveis de quem quer que seja. O programa salva vidas e é aprovado por quem mais importa: a população brasileira. Não nos curvaremos a quem persegue as vacinas, os pesquisadores, a ciência e, agora, duas das pessoas fundamentais para o Mais Médicos na minha primeira gestão como Ministro da Saúde, Mozart Sales e Alberto Kleiman."

O Itamaraty afirmou que ainda não irá se manifestar oficialmente sobre o caso. O Ministério da Saúde foi procurado pela imprensa, mas não se posicionou até o momento.

Quem são os alvos da revogação

  • Mozart Júlio Tabosa Sales ocupou cargos no Ministério da Saúde nas gestões petistas e atualmente integra a equipe do ministro Padilha.

  • Alberto Kleiman tem longa trajetória em políticas públicas e cooperação internacional. Já atuou na Presidência da República, foi diretor na OPAS e atualmente é coordenador para a COP-30 na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

O envolvimento de Kleiman com a OPAS é um dos pontos-chave da decisão de Rubio, já que a organização internacional foi responsável pela intermediação da contratação dos médicos cubanos que vieram ao Brasil pelo Mais Médicos.

EUA associam programa a exploração de mão de obra

Em sua nota, o Departamento de Estado dos EUA foi categórico ao afirmar que está adotando medidas contra funcionários brasileiros e ex-integrantes da OPAS "cúmplices do esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”.

O anúncio de Rubio ocorre no contexto da ampliação da política americana de restrição de vistos voltada contra Cuba e países considerados coniventes com o regime da ilha.

Nascido em Miami, Marco Rubio é filho de imigrantes cubanos, e tem forte histórico de oposição ao governo comunista de Cuba. Sua nomeação como chefe da diplomacia do governo Trump sinalizou uma linha dura contra regimes de esquerda na América Latina.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, estava em Washington nesta quarta-feira, onde se reuniu com membros do governo Trump. Em suas redes, ele celebrou a decisão de Rubio, afirmando que a medida é um recado contra o avanço de governos autoritários no continente:

“Mais cedo ou mais tarde, todos os que contribuírem para sustentar esses regimes responderão pelo que fizeram – e não haverá lugar para se esconder”, escreveu Eduardo, em nota à imprensa.

Criado em 2013, o programa Mais Médicos visava reduzir a falta de profissionais de saúde em regiões afastadas e periferias urbanas. Cuba se tornou o principal parceiro do projeto, enviando médicos por meio de um acordo com a OPAS. Em seu auge, o programa chegou a contar com cerca de 18 mil médicos, sendo quase metade cubanos.

Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, crítico ferrenho da presença de cubanos no Brasil, o regime de Havana decidiu encerrar sua participação no acordo. O programa passou por forte esvaziamento nos anos seguintes.

Somente em 2023, com o retorno de Lula à Presidência, o Mais Médicos foi retomado e ampliado. Hoje, segundo o Ministério da Saúde, há cerca de 26 mil profissionais vinculados ao programa, sendo 22 mil brasileiros e 2.661 cubanos — todos contratados após 2018.

O governo brasileiro defende o programa como essencial para garantir atendimento básico de saúde em áreas carentes, destacando os impactos positivos no acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS).

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