
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil provocou intensa repercussão nesta quinta-feira (7) ao publicar, em sua conta oficial na rede social X (antigo Twitter), uma mensagem considerada por analistas e políticos brasileiros como uma ameaça direta aos aliados do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O texto afirma que o governo norte-americano está “monitorando a situação de perto” e deixa um recado explícito para quem “apoiar ou facilitar” as ações do magistrado: “Estão avisados.”

O ministro Moraes é o principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores. Suas flagrantes violações de direitos humanos resultaram em sanções pela Lei Magnitsky, determinadas pelo presidente Trump. Os aliados de Moraes no Judiciário e em outras… https://t.co/mKCsObZASP
— Embaixada EUA Brasil (@EmbaixadaEUA) August 7, 2025
A publicação gerou espanto por seu conteúdo e forma, principalmente por se tratar de um pronunciamento público feito por uma embaixada estrangeira em território nacional, com possível interferência em assuntos internos de outro país.
O post da Embaixada é uma tradução de uma publicação feita um dia antes por Darren Beattie, subsecretário de Diplomacia Pública do Departamento de Estado dos EUA, órgão equivalente ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro.
Beattie, conhecido por seu alinhamento ao ex-presidente Donald Trump, compartilhou uma nota oficial do próprio Departamento de Estado criticando a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada por Moraes na última segunda-feira (4), após o ex-presidente violar medidas cautelares impostas pelo STF.
Na postagem original, Beattie adverte: “Os flagrantes abusos de direitos humanos cometidos por Moraes lhe renderam uma sanção Global Magnitsky do presidente Trump. Outros juízes devem evitar apoiar suas ações. Estão avisados.”
A postagem repercute uma sanção imposta ao ministro Alexandre de Moraes por meio da Lei Global Magnitsky, instrumento jurídico do governo norte-americano que permite punições a indivíduos acusados de violações graves de direitos humanos ou corrupção internacional.
Além de impedir a entrada de Moraes nos EUA, a sanção bloqueia eventuais bens e contas em território americano, e veda sua relação com empresas dos Estados Unidos. Outras sete autoridades do STF também teriam tido seus vistos cassados, de acordo com parlamentares da oposição.
A medida, adotada ainda no governo Trump, mas reforçada agora por vozes conservadoras nos EUA, representa uma escalada diplomática sem precedentes na relação Brasil-EUA, ao envolver diretamente a mais alta corte brasileira em um conflito político e jurídico internacional.
A divulgação das sanções e das novas pressões diplomáticas foi comemorada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente e também investigado em inquéritos do STF. Nas redes sociais, ele afirmou estar atuando junto a autoridades estrangeiras para “expor os abusos” da Justiça brasileira. “O mundo está abrindo os olhos. Moraes não é juiz, é militante. Agora os aliados dele também estão sendo observados”, escreveu o deputado.
Fontes ligadas ao PL afirmam que a estratégia internacional tem como objetivo pressionar instituições brasileiras e tornar insustentável a permanência de Moraes no STF, além de interferir politicamente nos desdobramentos dos processos judiciais envolvendo Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado e violação do Estado Democrático de Direito.
Até o momento, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) não se pronunciou oficialmente sobre a publicação da Embaixada dos EUA, mas, segundo fontes internas, o tom da mensagem causou perplexidade e pode motivar uma nota de repúdio ou solicitação formal de esclarecimentos junto ao governo americano.
Especialistas em diplomacia classificaram a postura da embaixada como grave violação do princípio da não interferência, e apontam que o gesto pode afetar diretamente as relações bilaterais entre os dois países, que vinham sendo reconstruídas após os atritos da gestão Bolsonaro com governos estrangeiros.
A crise diplomática tem como estopim a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro após ele quebrar medidas cautelares relacionadas ao inquérito que investiga a tentativa de golpe após as eleições de 2022.
Bolsonaro teria feito um discurso político por telefone a manifestantes, publicado nas redes sociais de seu filho Flávio Bolsonaro, mesmo estando proibido de se comunicar publicamente por qualquer meio. A violação foi usada por Moraes como justificativa para endurecer as medidas restritivas.
A decisão intensificou as críticas da oposição ao Judiciário, gerando ocupações e protestos no Congresso, e agora, repercussão internacional.
Além das medidas individuais contra Moraes e outros ministros do STF, parlamentares bolsonaristas afirmam que o governo dos EUA também teria aprovado um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, em uma tentativa de coerção econômica sobre o país. A medida, porém, não foi confirmada oficialmente pelo governo americano até o fechamento desta matéria.
A estratégia seria parte de uma campanha internacional de pressão contra decisões do STF que os aliados de Bolsonaro consideram autoritárias ou motivadas por perseguição política.
Diversas entidades do meio jurídico classificaram a ação como uma tentativa de interferência externa inaceitável nos assuntos internos do Brasil. Juristas apontam que o Brasil é uma democracia com instituições sólidas e independentes, e que sanções contra magistrados do Supremo Tribunal rompem a lógica diplomática entre nações aliadas.
Parlamentares da base governista também pediram ao Itamaraty que responda oficialmente à ameaça e convoque o embaixador americano para esclarecimentos. Já opositores de Moraes intensificaram os ataques ao magistrado nas redes sociais e pressionam o Congresso para avançar com o pedido de impeachment do ministro.
