
Enquanto a comitiva de senadores brasileiros avança em sua agenda de articulações nos Estados Unidos para tentar reverter a tarifa de 50% sobre produtos nacionais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) declarou que trabalha para dificultar os esforços do grupo. Em entrevista ao SBT News, nesta segunda-feira (28), o parlamentar afirmou que a missão “está fadada ao fracasso” e que pretende “impedir que encontrem diálogo” com autoridades americanas.

A delegação composta por oito senadores de diferentes partidos iniciou suas atividades no exterior na segunda-feira e entra nesta terça-feira (29) na fase mais decisiva da missão. Com reuniões agendadas com congressistas norte-americanos, o grupo busca apoio político e institucional para postergar ou cancelar a medida tarifária anunciada pelo ex-presidente Donald Trump, que impacta setores como aço, alumínio, alimentos e manufaturados brasileiros.
Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, minimizou o alcance da missão e disse que os senadores não devem ser recebidos por integrantes de alto escalão do governo norte-americano. Ele ainda afirmou que o problema não é de natureza comercial, e sim política e institucional.
“O problema é uma crise institucional, é um problema dentro do Judiciário, é um problema político e não meramente econômico. Se o Brasil der um primeiro passo para mostrar que está disposto a resolver essa situação, o Trump abre uma mesa de negociação”, afirmou o deputado.
Para ele, a abordagem adotada pela comitiva, focada na defesa do comércio exterior, ignora o contexto que teria motivado a medida dos EUA. Segundo Eduardo, o tarifaço teria ligação direta com o tratamento dado pela Justiça brasileira ao ex-presidente Bolsonaro e aos investigados por tentativa de golpe de Estado.
‘Trabalhando contra’ - Ao criticar a comitiva liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), o deputado admitiu agir ativamente contra o avanço da missão. “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo”, declarou.
Eduardo Bolsonaro sustenta que as tarifas são uma ferramenta política para pressionar o governo brasileiro a conceder anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, incluindo seu pai. Na carta oficial enviada por Donald Trump para justificar a taxação, o ex-presidente dos EUA classificou o julgamento de Jair Bolsonaro como “uma desgraça internacional” e pediu o encerramento do processo judicial.
O deputado também teria participado da reunião que antecedeu o anúncio do tarifaço por Trump.
Apesar das críticas, a missão do Senado continua em curso. Nesta terça-feira, a comitiva tem uma série de reuniões com parlamentares americanos, tanto democratas quanto republicanos. Os encontros são fechados e ocorrem ao longo do dia em Washington. No fim da tarde, está prevista uma entrevista informal com a imprensa, nas escadarias do Capitólio.
A expectativa do grupo é reforçar a posição institucional do Brasil e mostrar que há disposição política para o diálogo. A estimativa da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) aponta que as tarifas podem gerar prejuízo de até R$ 175 bilhões ao Brasil em dez anos, afetando setores estratégicos da economia.
Eduardo Bolsonaro reforçou, durante a entrevista, seu alinhamento com Trump e criticou o Judiciário brasileiro por não oferecer, segundo ele, sinais de conciliação. “Eles (a comitiva do Senado) dão esperança a essas autoridades, principalmente do Judiciário, de que existe meio termo”, afirmou.
Para o deputado, a única saída para um eventual recuo das tarifas seria o Brasil apresentar uma proposta de anistia para os condenados e investigados por tentativa de golpe. Na sua avaliação, a missão do Senado apenas “prolonga o sacrifício dos brasileiros”.
