
Campo Grande, com seus quase 900 mil habitantes, está prestes a ver um feito inédito: pela primeira vez, duas mulheres concorrem ao cargo mais importante da cidade, a prefeitura. Adriane Lopes e Rose Modesto, representantes de dois partidos de centro-direita, chegaram ao segundo turno, agendado para 27 de outubro. O eleitor campo-grandense terá uma missão histórica, decidir entre elas quem será a próxima prefeita da capital sul-mato-grossense.

A pioneira nomeada - Não que a cidade nunca tenha visto uma mulher no comando. Nelly Bacha já ocupou a cadeira de prefeita, mas foi nomeada em 1983, numa época em que o voto direto para prefeito estava suspenso pela Ditadura Militar. Desde então, todas as administrações foram lideradas por homens, numa sucessão que manteve o poder tradicional bem guardado nas mãos masculinas. Até agora.
Adriane Lopes: a atual prefeita - Adriane Lopes (PP) já está à frente da prefeitura desde 2022. Isso porque o prefeito reeleito na última disputa, Marquinhos Trad, renunciou ao cargo para tentar ser governador. Vice de Trad, Adriane assumiu o posto, mas a eleição de 2024, com seu nome diretamente na urna, é um novo teste para a gestora de perfil conservador e evangélico, com forte base de apoio entre os religiosos. Formada em Direito e Teologia, Adriane não faz questão de esconder suas credenciais de fé, algo que a ajudou a chegar aos 31,66% dos votos no primeiro turno. Agora, corre para garantir a vitória final.
Rose Modesto: a política da base - Do outro lado da disputa, Rose Modesto (União) vem de uma trajetória diferente, mas não menos robusta. Professora de História, Rose começou a vida política em Campo Grande, onde já foi vereadora e vice-governadora do estado. Conhecida por seu projeto social "Tocando em Frente", que atende crianças e jovens de comunidades carentes, Rose carrega uma aura de política ligada à base, aquela que conhece as necessidades da periferia. Aos 46 anos, ela tenta pela segunda vez a prefeitura, depois de ter ficado em segundo lugar nas eleições de 2016.
Semelhanças e diferenças - Campo Grande, uma cidade que se equilibra entre o campo e o urbano, o agronegócio e a vida metropolitana, vê na disputa entre Adriane e Rose uma polarização que talvez não seja tão profunda quanto parece. No final, as duas têm muito mais em comum do que se imagina: são mulheres de partidos conservadores, com trajetórias políticas já estabelecidas, e que circulam confortavelmente nos ambientes de poder. Mas o jogo do segundo turno pode ser uma virada decisiva para ambas. Com uma diferença pequena entre elas — Rose ficou com 29,57% dos votos no primeiro turno —, a corrida está longe de ser definida.
As urgências da cidade - Para além das biografias e trajetórias, o eleitorado de Campo Grande será chamado a decidir o rumo de uma cidade onde a política parece se transformar a passos lentos. As questões urgentes, como mobilidade urbana, saúde pública e habitação, estarão no centro dos próximos debates. Mas, no fundo, o simbolismo desta eleição está no fato de que, em um país onde a política ainda é fortemente masculina, duas mulheres estão prestes a protagonizar a cena. Adriane e Rose não são apenas candidatas: elas representam, de formas diferentes, uma nova possibilidade para a política local, com tudo o que isso pode significar.
O desafio de Adriane - Para a atual prefeita, o desafio será convencer o eleitorado de que ela não é apenas uma vice que ocupou a vaga por acaso, mas uma liderança capaz de continuar conduzindo a cidade em tempos de incerteza. Rose, por sua vez, terá que mostrar que sua experiência como vice-governadora e deputada federal a qualifica para enfrentar os problemas complexos de uma cidade que, assim como ela, parece estar tocando em frente, mas ainda à procura de um destino mais definido.
Uma escolha simbólica - No fim das contas, o que está em jogo é mais do que a simples escolha entre duas mulheres. Campo Grande terá a chance de escolher entre dois estilos de liderança feminina que, embora próximas no espectro político, carregam significados distintos. Resta saber qual dessas narrativas vai ressoar com mais força nos eleitores.
Uma nova página para Campo Grande - E, no dia 27 de outubro, a cidade, que já assistiu à ascensão de tantas figuras masculinas ao poder, verá uma nova página sendo escrita.
