
Dezoito anos após a criação do Dia da Consciência Negra em Mato Grosso do Sul — instituído por lei proposta pelo então deputado Amarildo Cruz — os dados mais recentes mostram que o Estado ainda enfrenta desigualdades profundas. O especial “ALEMS Antirracista”, atualizado em novembro, reúne estudos e legislações que reforçam a necessidade de atuação contínua.
O Censo 2022 aponta 2.572 quilombolas em MS, com mais da metade vivendo fora dos 11 territórios delimitados. O Estado também tem o segundo maior índice do País de quilombolas em áreas urbanas, cenário que exige políticas específicas.
Na educação, o deputado Professor Rinaldo Modesto (Podemos) cobra o cumprimento das leis que tornam obrigatória a abordagem da história afro-brasileira e indígena. Ele lembra que o Brasil é majoritariamente negro (55,4% da população), mas a desigualdade escolar permanece elevada.
A desigualdade econômica reforça o cenário: 75% dos brasileiros abaixo da linha de pobreza são negros, e mesmo com ensino superior, pessoas negras recebem 45% menos por hora que pessoas brancas. Presidente da Comissão de Trabalho, Cidadania e Direitos Humanos, Lidio Lopes afirma que o racismo segue atuando de forma estrutural e cotidiana.
“Muitas agressões não aparecem apenas nas ruas. Elas migram para o ambiente virtual, onde o anonimato incentiva a reincidência”, diz o parlamentar, defendendo fiscalização e oportunidades reais no mercado de trabalho.
A violência letal mantém o mesmo padrão. A pesquisadora Cíntia Diallo (UEMS) lembra que 76,5% das vítimas de homicídio no País são negras e ressalta que políticas públicas precisam reconhecer todas as camadas do racismo para serem eficazes.
Nos movimentos sociais, Romilda Pizani, do Fórum Permanente do Movimento Negro, aponta resistência na aplicação da Lei 10.639/2003 e a baixa presença de pessoas negras em espaços de decisão. Na cultura, a cantora Marta Cel relata falta de valorização e convites sem remuneração, realidade comum entre artistas negros em MS.

