
Três deputados federais ausentes do Congresso — seja por prisão ou por estarem fora do Brasil — já consumiram R$ 3,3 milhões dos cofres públicos em quase dois anos, sem registrar presença em plenário. Os nomes por trás desse gasto são Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Carla Zambelli (PL-SP).

Chiquinho Brazão, preso sob acusação de envolvimento no assassinato de Marielle Franco, manteve o mandato até abril de 2025 e, mesmo detido, seguiu recebendo salário com desconto pelas faltas. Seu gabinete, com 24 assessores, chegou a custar R$ 120 mil mensais.
Já Zambelli e Eduardo estão fora do país, ambos licenciados e impedidos de receber salários, mas com estrutura de gabinete mantida. Zambelli foi para a Itália após ser condenada a dez anos de prisão pelo STF, enquanto Eduardo viajou aos Estados Unidos em busca de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes. Mesmo com as licenças expiradas, os dois seguem com equipes ativas e remuneração paga pela Câmara.
Somente em setembro, os assessores de Zambelli custaram R$ 103 mil. A equipe do gabinete afirmou que os trabalhos continuam normalmente, com atividades administrativas, acompanhamento de pautas e atendimento à população. O gabinete de Eduardo, que mantém nove servidores com custo de R$ 132 mil por mês, não se manifestou.
Enquanto isso, propostas tramitam para impedir que deputados continuem com estruturas financiadas pelo poder público quando não estão no país ou presos. O deputado Alencar Santana (PT-SP) apresentou um projeto que proíbe o chamado “deputado home office”, exigindo que o parlamentar exerça suas funções em território nacional. “É ilógico ser eleito para estar na Câmara e atuar de fora”, criticou.
A situação gera reação no Congresso e entre analistas. Para o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, da FGV, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfrenta um dilema político. “Quando a Câmara mantém o pagamento de quem não trabalha, a imagem da instituição vai para o ralo”, afirmou.
A percepção popular acompanha esse desgaste. Segundo pesquisa Genial/Quaest, 83% dos brasileiros acham que deputados atuam em benefício próprio. A desaprovação ao trabalho da Câmara chega a 58%.
Carla Zambelli ainda aguarda julgamento sobre a cassação de seu mandato, processo que corre na Comissão de Constituição e Justiça. Eduardo Bolsonaro também pode perder o cargo em março de 2026, se as faltas ultrapassarem um terço das sessões.
O cientista político Cláudio André de Souza, da Unilab, avalia que a manutenção desses mandatos afeta diretamente a confiança no Congresso. “A permanência de parlamentares sob investigação ou presos compromete a representatividade e afasta ainda mais o cidadão da política”, disse.
