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ELEIÇÕES EUROPEIAS

De olho em eleições, extrema direita europeia diz se afastar de Putin após invasão da Ucrânia

Com a repercussão dos ataques de Vladimir Putin ao território ucraniano, candidatos franceses à presidência e o húngaro Viktor Orbán foram cobrados por ligações com o líder russo

3 março 2022 - 08h30
Entrevista de Marine Le Pen à BFM TV, candidata foi confrontada com foto ao lado de Putin.
Entrevista de Marine Le Pen à BFM TV, candidata foi confrontada com foto ao lado de Putin. - (Foto: Reprodução/Estadão)

Marine Le Pen, a principal candidata da extrema direita à presidência da França, viu sua entrevista ao canal de notícias BFM TV ser anunciada enquanto a emissora exibia as imagens da retirada do embaixador francês de Kiev, na Ucrânia, para Lviv perto da fronteira com a Polônia. Conhecida por suas ligações com o líder russo, Vladimir Putin, a candidata sabia o que a esperava no programa. Há cinco anos, ela fora a Moscou e apertara as mãos do chefe do Kremlin durante a campanha em que foi derrotada pelo centrista Emmanuel Macron. Não adiantou Le Pen dizer que o Putin de hoje não é a mesma pessoa de cinco anos atrás. Sua fotografia com o autocrata russo foi exibida diversas vezes durante a entrevista.

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Proximidade

Há 40 dias do primeiro turno das eleições presidenciais francesas, Le Pen não é a única candidata em maus lençóis em razão do que a imprensa francesa tem descrito como "proximidade incômoda" com Putin. Outra estrela da extrema direita, o jornalista Éric Zemmour, também está sendo fustigado por suas declarações a respeito do russo. O jornalista chegou a dizer que "sonhava com "um Putin francês". Zemmour lamentava, no entanto, que tal líder não existisse em seu país. Juntamente com Le Pen, eles detêm 33% das intenções de voto e estão logo atrás do líder das pesquisas, o presidente Macron.

O terremoto causado por Putin ameaça não só os dois: o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán é outro que está sendo cobrado pelas ligações com o invasor da Ucrânia. Após 12 anos no poder, ele enfrentará as acusações do candidato da oposição unida, o conservador Péter Márki-Zay, na eleição de 3 de abril. "Se Orbán não tivesse bloqueado a aproximação da Otan com a Ucrânia, essa guerra não teria estourado. Orbán é pessoalmente responsável pelo fato de haver guerra e por gente estar morrendo." Orbán reagiu rápido: condenou Putin horas após o início da invasão.

Na França, até o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, quarto colocado nas pesquisas, teve de se explicar. A exemplo dos direitistas, Mélenchon é um eurocético. No dia 1.º, ele subiu à tribuna da Assembleia Nacional e expôs sua posição a respeito de Putin, da guerra e da política externa da União Europeia. Condenou Putin e a agressão à Ucrânia. E foi aplaudido. Mas quando se disse contrário ao envio de armas pela UE à Ucrânia e às sanções contra a Rússia, viu a aprovação virar vaia. O deputado de seu partido André Quatennens recebeu a tarefa de explicar o discurso. Disse que a França deve se manter neutra para poder negociar a paz, já que a guerra não é uma alternativa entre potencias nucleares. E diferenciou a posição de Mélenchon - com base no pacifismo - daquela de Le Pen e de Zemmour, motivada pela identidade ideológica com Putin.

Marine Le Pen foi confrontada com as posições do candidato Éric Zemmour (ao fundo), que elogiou Vladimir Putin.
Marine Le Pen foi confrontada com as posições do candidato Éric Zemmour (ao fundo), que elogiou Vladimir Putin. (Foto: Reprodução/Estadão)

Ao ser questionada pelos jornalistas, Le Pen também teve dificuldade para se explicar. Manteve a posição de ser contrária à expansão da União Europeia, apesar de, agora, isso significar dizer não ao pedido feito pelo presidente ucraniano, Volodmir Zelenski. Mesmo condenando a ação de Putin, a candidata se pôs contra as sanções à Rússia que "penalizem os franceses", como as que, segundo seus cálculos, quadruplicariam os preços do gás. Disse que era preciso "parar os combates" e foi confrontada com dados sobre os refugiados.

Em duas oportunidades, os jornalistas interromperam a entrevista para exibir o som das sirenes de ataque aéreo em Kiev, enquanto a candidata observava. "É desonesto agir nesse terreno. Eu falava com um dirigente (Putin) que havia refeito o país após 70 anos de comunismo. Mas se ele utiliza esse poder mal, não posso, evidentemente, concordar." Ao ser questionada sobre o envio de armas da UE à Ucrânia, Le Pen disse "ter reservas", pois "isso faria de nós cobeligerantes".

Dinheiro

A virada da UE e a decisão dos EUA e aliados de provocar o colapso econômico russo, deixou a extrema-direita europeia surpresa. Os adversários de Le Pen lembraram os laços financeiros dela com o Leste Europeu como razão do desconforto. Em 2014, segundo o jornal Le Monde, seu partido emprestou € 9 milhões de uma empresa russa dirigida por antigos militares, a Aviazapchast. Para esta campanha eleitoral, ela apanhou um empréstimo de € 10,6 milhões em um banco húngaro, país dirigido por Orbán, outro aliado de Putin.

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