
Déficit acumulado, falta de insumos cirúrgicos e denúncias de risco de morte de pacientes em Campo Grande levaram deputados estaduais de Mato Grosso do Sul a se manifestarem em plenário, nesta quinta-feira (28), sobre a crise enfrentada pela Santa Casa. O hospital, referência em alta complexidade no estado, enfrenta atrasos em repasses da Prefeitura da capital, que somam mais de R$ 46 milhões.

A cobrança mais contundente partiu do deputado Professor Rinaldo Modesto (Podemos), que classificou a situação como o “fundo do poço”. Em discurso, o parlamentar relatou que três médicos procuraram a polícia para registrar boletins de ocorrência por risco à vida de cerca de 70 pacientes internados, devido à falta de insumos essenciais para a realização de cirurgias.
“Estamos tratando de vidas. Essa situação é dramática e pede uma resposta urgente do poder público”, afirmou Rinaldo. Segundo ele, há relatos de famílias que só receberam a confirmação de agendamento de cirurgias semanas após o falecimento de seus entes. “Isso ultrapassa todos os limites da dignidade humana”, reforçou.
Deputado estadual Rinaldo Modesto
O deputado também cobrou da Prefeitura de Campo Grande o pagamento da contratualização tripartite firmada com a Santa Casa e pediu apoio da bancada federal de Mato Grosso do Sul para intermediar uma solução. “A Santa Casa não é um hospital qualquer. É o principal polo de atendimento de casos graves de todo o estado. Não podemos permitir que vidas se percam por falta de gestão ou sensibilidade”, disse.
Pedro Kemp (PT) endossou a fala de Rinaldo e lamentou o que chamou de colapso generalizado da gestão municipal. “A Santa Casa atende pacientes do interior, não é só da capital. E estamos vendo um retrato de abandono, não apenas na saúde, mas também em áreas como assistência social e infraestrutura urbana”, afirmou.
Deputado estadual Pedro Kemp
Para Kemp, a situação atual contrasta com o discurso da última campanha eleitoral. “Disseram que tudo estava bem, mas hoje vemos buracos nas ruas, CRAS sucateados e conselhos tutelares sem estrutura. A Santa Casa está prestes a parar, e o poder público não apresenta nenhuma resposta concreta”, criticou.
Justiça determina pagamento - A crise se agravou após decisão judicial que obriga a Prefeitura de Campo Grande a repassar, de forma imediata, os R$ 46 milhões devidos à Santa Casa. O valor corresponde a contratos já firmados e não quitados, prejudicando o funcionamento do hospital, que atualmente enfrenta um déficit anual superior a R$ 158 milhões.
A direção da Santa Casa já havia alertado sobre a situação em audiência pública recente na própria Assembleia Legislativa. Segundo o hospital, o valor mensal em aberto compromete não apenas os atendimentos de urgência e emergência, mas também cirurgias eletivas e internações em UTI.
Além do impacto direto sobre os pacientes, os parlamentares chamaram atenção para o efeito sobre os profissionais da saúde. “Nunca vi médicos registrando boletim de ocorrência por falta de material para operar. Isso mostra a gravidade do que está acontecendo”, destacou Kemp.
A expectativa entre os deputados é que a repercussão da crise pressione o Executivo municipal a agir. Enquanto isso, lideranças da Assembleia prometem seguir acompanhando a situação de perto, com possibilidade de novas audiências públicas e propostas legislativas para evitar o agravamento do problema.
Como resposta inicial, o deputado estadual Pedrossian Neto (PSD) apresentou projeto de lei que prevê reajuste automático nos convênios entre o Governo do Estado e hospitais filantrópicos, como a Santa Casa. A proposta ainda tramita na Casa, mas é vista como alternativa para garantir maior estabilidade financeira às instituições que atendem via SUS.
