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28 de outubro de 2025 - 16h08
CPMI DO INSS

Relator da CPMI do INSS pede ligação durante sessão para esclarecer uso de avião por ONG

Piloto Henrique Traugott depôs à comissão e fez chamada ao vivo para colega que detalhou conexões com entidades ligadas à Conafer

28 outubro 2025 - 13h05Gustavo Côrtes
Deputado Alfredo Gaspar durante a CPMI do INSS: relator pediu ligação telefônica a piloto para esclarecer relação entre Conafer e uso de aeronaves
Deputado Alfredo Gaspar durante a CPMI do INSS: relator pediu ligação telefônica a piloto para esclarecer relação entre Conafer e uso de aeronaves - Foto: Wilton Junior/Estadão
Terça da Carne

Uma situação inusitada marcou a sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS nesta terça-feira (28). O relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), solicitou que uma testemunha, o piloto Henrique Traugott, realizasse uma ligação telefônica durante seu depoimento para esclarecer ligações entre aeronaves, entidades do agronegócio e possíveis esquemas de fraudes envolvendo aposentadorias e pensões.

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Traugott, que trabalhou como piloto para dirigentes da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), parou de falar por cerca de dez minutos e colocou no viva-voz um amigo chamado Leandro Almeida, também piloto e responsável por contratá-lo para o trabalho.

“Faz um favor para mim. Liga aí para o Leandro”, pediu Gaspar. Assim que a ligação foi atendida, o relator foi direto: “Vamos encurtar os caminhos. Nós estamos aqui com o senhor Henrique e, para evitar uma convocação do senhor, até porque o senhor é uma pessoa decente e trabalhadora, vamos encurtar essa conversa aqui.”

Do outro lado da linha, Leandro confirmou que trabalhou como piloto para Vinícius Ramos da Cruz, presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), entidade parceira da Conafer. Segundo ele, foi por orientação de Ramos que passou a prestar serviços à confederação e indicou Henrique para a função. “O Vinícius orientou a gente a atender a Conafer”, afirmou.

Apesar de já existir um pedido formal para que Leandro preste depoimento à CPMI, ele ainda não foi convocado. O deputado Alencar Santana (PT-MG) apresentou o requerimento sob a justificativa de que o piloto pode fornecer informações cruciais sobre quem usava as aeronaves e possíveis ligações com irregularidades.

Contratação informal e vínculos indiretos - Durante a oitiva, Henrique Traugott explicou que não tinha contrato formal com a Conafer ou com o ITT. Ele era pago diretamente por Leandro Almeida, por meio de transferências bancárias, enquanto estruturava a abertura de um MEI (Microempreendedor Individual).

Questionado pelo líder do governo na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS), sobre quem era seu empregador, Traugott respondeu: “Pelo Leandro. O Leandro foi quem me contratou. Eu era pago em transferência e estava em processo de criar um MEI.”

Ele negou ter transportado qualquer político ou pessoas ligadas ao núcleo da investigação, que apura supostos descontos indevidos nos benefícios do INSS por meio de associações vinculadas à Conafer.

Esquema sob investigação - A CPMI do INSS foi criada para investigar fraudes em benefícios previdenciários, incluindo práticas de descontos associativos irregulares e desvios de emendas parlamentares. A Conafer e o ITT estão no centro dessas apurações.

Leandro Almeida, além de atuar como piloto da entidade, teria prestado serviços ao deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), que aparece nas investigações por ter vendido uma aeronave ao ITT. O mesmo avião foi posteriormente transferido para outra entidade ligada à Conafer. Entre 2022 e 2023, o parlamentar destinou R$ 2,5 milhões em emendas para a ONG.

Após o início da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, o presidente do ITT vendeu a aeronave por R$ 700 mil a Silas da Costa Vaz, presidente de uma cooperativa ligada à Conafer, a Conamap (Cooperativa de Trabalho e Comercialização da Cadeia Produtiva do Mais Pescado e Produtos Conafer).

Durante a sessão da CPMI, Alfredo Gaspar exibiu no telão fotos dos principais investigados no esquema, como Antonio Carlos Camilo, o "Careca do INSS", e Virgílio Oliveira Filho, ex-procurador-geral do instituto.

O relator questionou diretamente a testemunha: “Alguém aqui voou com o senhor?”. Traugott respondeu: “Com certeza, não.”

A comissão deve avaliar nos próximos dias a convocação formal de Leandro Almeida, além do aprofundamento das investigações sobre o uso de recursos públicos e bens por entidades que receberam emendas parlamentares para projetos de desenvolvimento rural, mas que podem ter sido utilizadas em fraudes previdenciárias.

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