
Criada para investigar fraudes em descontos ilegais contra aposentados e pensionistas, a CPI do INSS tem se destacado não apenas pelo conteúdo das apurações, mas também por se tornar um verdadeiro palco político — com explosão de audiência nas redes sociais e parlamentares mirando diretamente nas eleições de 2026.

O tema sensível, que envolve vítimas vulneráveis do sistema de previdência, tem gerado alta comoção pública e ampliado a visibilidade da comissão. Aproveitando o engajamento, deputados e senadores adotaram uma estratégia clara: discursos acalorados, linguagem popular, microfones próprios, câmeras paralelas e cortes milimetricamente pensados para viralizar nas redes.
Um dos exemplos mais simbólicos é o do deputado Alfredo Gaspar (União-AL), relator da CPI, que conduz seus interrogatórios de pé, diante de um telão com sua logomarca personalizada. “Alfredo Gaspar na CPI do INSS”, diz a imagem exibida enquanto ele faz perguntas, sempre de olho no que poderá repercutir melhor digitalmente.
Audiência nas alturas - O depoimento de Carlos Antônio Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, alcançou 838 mil visualizações no canal do Senado no YouTube — audiência muito superior às sessões plenárias do Senado, que variam entre 10 e 15 mil acessos.
A repercussão se reflete diretamente no número de seguidores dos parlamentares. Entre junho e setembro, Alfredo Gaspar saltou de 218 mil para 360 mil seguidores no Instagram. O presidente da CPI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), foi de 136 mil para 234 mil seguidores no mesmo período. Gaspar é cotado para disputar o Senado; Viana, a reeleição.
A condução das sessões, marcada por embates acalorados e falas ensaiadas, tem gerado críticas entre os próprios integrantes. O deputado Alencar Santana (PT-SP), da base governista, criticou o uso eleitoral da comissão: “Ele vai utilizar isso nas redes sociais. Está fazendo propaganda”, disse sobre o relator.
Gaspar reagiu com ironia: “A pedido do PT, mandei melhorar minha logomarca”. A disputa por atenção digital já é parte do roteiro das sessões.
Parlamentares como o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO), conhecido pelo tom exaltado, têm apostado em vídeos com títulos impactantes. Um deles, que começa com a frase “Petista surta quando é falado que governo Lula é manchado pela corrupção”, teve 128 mil visualizações.
Reeleito em 2022 com 24,4 mil votos, Chrisóstomo comemora os efeitos da CPI na popularidade: “As pessoas pedem para tirar foto comigo quando chego em Porto Velho. É por causa da CPI”.
A estratégia não é exclusiva da oposição. O petista Alencar Santana viu seu número de seguidores saltar de 66,9 mil para 145,5 mil, com vídeos de embates contra o senador Izalci Lucas (PL-DF). Uma publicação em que acusa o senador de ser responsável por mudanças em normas do INSS passou de 700 mil visualizações.
Além dos embates, há planejamento minucioso. Alguns parlamentares usam microfones de lapela, enquanto assessores gravam com celulares as melhores cenas para as redes. O deputado Delegado Caveira (PL-PA), que não é membro da comissão, aparece apenas no fim das sessões para garantir seu trecho e já conseguiu mais de 130 mil visualizações em vídeo onde pede a prisão de uma testemunha.
O presidente Carlos Viana, que comanda o colegiado, tenta manter equilíbrio, mas também capitaliza a visibilidade. Ele edita suas falas com trilhas sonoras e publica em seus canais. Apresentador de um programa policial em Minas Gerais, Viana também comenta ao vivo, de Brasília, os desdobramentos da CPI nas noites de segunda-feira.
Na última edição, celebrou uma operação da Polícia Federal, ligada às investigações da comissão. “Do que depender de mim, a gente vai até o final”, disse no programa transmitido pela TV Alterosa.
Tensão e brigas públicas - A politização da CPI atinge também os bastidores. Um embate entre Chrisóstomo e o petista Paulo Pimenta (PT-RS), por causa de postagens nas redes sociais, levou à impressão de publicações e troca de acusações. “Não vai ser o 'Sargento Pincel' que vai intimidar alguém com mentiras”, disparou Pimenta. A oposição prometeu divulgar quem vota contra requerimentos.
Na tentativa de conter os ânimos, Viana pediu mais foco: “Deixem as diferenças partidárias para 2026. Aqui, o foco é investigar as fraudes contra os aposentados”, apelou.
Enquanto apurações seguem em curso, a CPI do INSS tornou-se um dos eventos políticos de maior audiência no país. Seja como instrumento de apuração, seja como palanque eleitoral, o colegiado mostra que em 2025, quem não estiver nas redes, não entra em campo.
