
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que será realizada em novembro em Belém, no Pará, precisa deixar de lado os discursos vazios e marcar uma virada prática na implementação de acordos ambientais. A avaliação é do ministro dos Transportes, Renan Filho, que participou nesta terça-feira (28) do evento Brazil Windpower, em São Paulo.
Para o ministro, a COP30 deve ser lembrada como o momento em que os compromissos ambientais firmados em edições anteriores finalmente começaram a sair do papel. “Boa parte do mundo não implementa os acordos firmados. Se for para continuar assim, será mais uma discussão ‘para inglês ver’”, afirmou.
Renan defendeu que um dos principais pontos da conferência seja o chamado financiamento cruzado, mecanismo em que países ricos apoiam financeiramente a transição energética de nações em desenvolvimento. Sem isso, segundo ele, a agenda ambiental corre o risco de permanecer estagnada.
Energia limpa e desafios estruturais - Apesar do avanço das fontes renováveis, o ministro lembrou que nem sempre a energia limpa é mais barata, já que o custo da transição vai além da geração. “Se a energia limpa fosse mais barata, o problema estaria resolvido. Mas há questões estruturais, como a troca de motores de aviões, por exemplo”, explicou.
Ele também destacou a importância das agendas internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente durante viagens recentes à Ásia. “Reunião do presidente Lula fora do país é sempre notícia boa. Ele consegue articular com base em informações fidedignas, e não fake news”, disse o ministro, fazendo uma crítica indireta à desinformação em temas ambientais.
Durante o mesmo evento, a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa, reforçou o compromisso do banco com o financiamento da energia eólica no Brasil — tanto onshore (em terra) quanto offshore (em alto-mar).
Luciana destacou que a energia eólica offshore representa a “segunda onda” da transição energética brasileira. A primeira, segundo ela, consolidou um modelo em que cerca de 90% do mix elétrico do país é composto por fontes renováveis. “Agora precisamos garantir que essa próxima etapa da transição ocorra com segurança, viabilidade financeira e impacto positivo para o país”, afirmou.
Apesar das dificuldades recentes no setor, a executiva informou que o banco continua com projetos em andamento no pipeline e está atento às oportunidades.
Marco regulatório pode acelerar setor - Luciana Costa também comentou a importância da Medida Provisória 1.304, que trata do teto para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Para ela, a MP pode ajudar a tornar o setor mais previsível e transparente. “Essa medida pode ser muito positiva e mostra para a sociedade que a democracia funciona”, afirmou.
A CDE é um dos principais instrumentos de financiamento das políticas públicas no setor elétrico, custeando subsídios para tarifas e programas sociais.
A realização da COP30 no Brasil traz expectativas elevadas por parte do governo e da comunidade internacional. Esta será a primeira vez que o evento acontece na região amazônica, o que amplia o simbolismo da discussão em torno da preservação ambiental e da transição energética em países que convivem com desigualdade social e alto potencial de geração de energia limpa.
O governo federal espera que o evento em Belém seja palco de avanços concretos nas negociações sobre clima, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, com foco especial na cooperação internacional e no financiamento para ações que enfrentem as mudanças climáticas de forma justa e efetiva.

