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03 de novembro de 2025 - 21h49
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LUTO

Morre Clara Charf, símbolo da resistência à ditadura e da luta pelos direitos das mulheres

Viúva de Carlos Marighella e militante histórica, Clara dedicou um século à defesa da liberdade e da justiça social

3 novembro 2025 - 13h40Ederson Hising
Clara Charf militou no PCB e no PT e foi companheira do guerrilheiro Carlos Marighella
Clara Charf militou no PCB e no PT e foi companheira do guerrilheiro Carlos Marighella - ( Foto: Rafael Stedile/Brasil de Fato)

Clara Charf, ativista histórica da esquerda brasileira e viúva do guerrilheiro Carlos Marighella, morreu na madrugada desta segunda-feira (3), em São Paulo, aos 100 anos. A informação foi confirmada por Vera Vieira, diretora-executiva da Associação Mulheres Pela Paz, organização fundada e presidida por Clara. A militante estava internada e entubada há alguns dias.

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“Muita tristeza. Clarinha morreu de causas naturais. Estava hospitalizada há alguns dias, entubada”, informou Vieira. “Ela deixa um legado de lutas pelos direitos humanos e equidade de gênero.”

Nascida em 17 de julho de 1925, Clara teve uma trajetória marcada por coragem, resistência e compromisso com as causas populares. Aos 21 anos, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), onde conheceu Marighella, com quem viveu até sua execução por agentes da ditadura militar em 1969. Durante os anos de chumbo, Clara atuou na Ação Libertadora Nacional (ALN), organização de luta armada criada por Marighella para combater o regime instaurado em 1964.

Após a morte do companheiro, Clara se exilou em Cuba, onde viveu na clandestinidade e atuou como tradutora. Retornou ao Brasil em 1979, após a promulgação da Lei da Anistia, e retomou sua militância política. Em 1982, concorreu a deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), legenda da qual foi uma das fundadoras e à qual permaneceu filiada até seus últimos dias.

O PT, em nota oficial, destacou a relevância de sua trajetória: “Foi um século dedicado à liberdade, à justiça social, ao enfrentamento ao fascismo e à defesa intransigente dos direitos humanos. Sua história se confunde com a própria história da resistência democrática brasileira.”

Clara Charf também teve atuação marcante no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e foi presidente da Associação Mulheres Pela Paz, fundada por ela em 2003. A organização tornou-se referência no combate à violência de gênero e na promoção do protagonismo feminino.

A ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, lamentou a perda e exaltou o papel de Clara na história do país: “Enfrentou com coragem a repressão, a ditadura e o exílio, mantendo e espalhando a esperança na construção de um mundo mais justo.”

O jornalista Mário Magalhães, biógrafo de Carlos Marighella, prestou homenagem nas redes sociais: “Ela foi uma das mulheres mais fascinantes, generosas e destemidas que o Brasil conheceu. Não era corajosa confrontando fracos, mas fortes, poderosos. Um dia, vão se espalhar escolas, bibliotecas, ruas, praças e pontes com seu nome.”

O falecimento de Clara Charf ocorre um dia antes do aniversário da morte de Carlos Marighella, assassinado em 4 de novembro de 1969. Ao longo de sua vida, Clara jamais deixou de defender o legado do companheiro e a importância da resistência democrática.

Até a publicação desta matéria, a família não havia divulgado informações sobre o velório e sepultamento.

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