
O senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do Progressistas e ex-ministro do governo Bolsonaro, respondeu duramente ao pastor Silas Malafaia, após ser chamado de “traidor” por se recusar a apoiar o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

A troca pública de farpas, feita por meio das redes sociais, expõe divisões na base da oposição ao governo Lula, especialmente entre políticos e lideranças religiosas ligadas ao bolsonarismo.
SENADOR CIRO NOGUEIRA . VOCÊ É UM TRAIDOR !
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) August 6, 2025
Essa sua conversa fiada em dizer que não assina o impeachment do ditador Alexandre de Moraes porque não vai ter o voto de 52 senadores , é o seu joguinho político psicológico , para outros senadores não assinarem e você fazer graça…
“Eu não me meto na sua igreja e se o senhor quiser ser senador e se candidatar e liderar o movimento político que quiser será muito bem-vindo. Aí então verá que, diferentemente da sua igreja, na democracia não é a vontade de um, mas da maioria”, escreveu Nogueira, em seu perfil na rede X (antigo Twitter), na última quarta-feira (6).
Ciro justificou sua recusa em assinar o pedido de impeachment de Moraes afirmando que não há votos suficientes no Senado para aprovar a medida. “Nós não temos 54 senadores para aprovar”, disse em entrevista ao portal Metrópoles, ao classificar sua postura como “pragmática”.
O ex-ministro de Jair Bolsonaro foi alvo de críticas duras por parte de apoiadores do ex-presidente, especialmente de Malafaia, que vem encabeçando um movimento de pressão pública contra parlamentares que se recusam a aderir à iniciativa da oposição.
Após a publicação do senador, Silas Malafaia reagiu em novo ataque nas redes sociais. O pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo acusou Ciro Nogueira de “preconceito contra um pastor” e afirmou que o senador estaria apoiando uma “ditadura de toga” ao não se posicionar contra Alexandre de Moraes.
“A liberdade para falar de política é fundamento do Estado Democrático de Direito. Você é daqueles coronéis do Nordeste que não suporta a crítica e o contraditório”, escreveu o religioso, em tom de provocação.
Malafaia também reforçou que, como líder religioso e cidadão, tem o direito de cobrar posições públicas de figuras políticas, especialmente em temas sensíveis como a atuação do STF e os recentes desdobramentos judiciais envolvendo Jair Bolsonaro.
A polêmica em torno do impeachment de Moraes ganhou força nas últimas semanas após a decretação de prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, o que motivou parlamentares da oposição a ocupar simbolicamente as mesas da Câmara e do Senado, exigindo que a pauta fosse colocada em votação.
O movimento é liderado por parlamentares bolsonaristas, que tentam recolher o número mínimo de assinaturas para protocolar oficialmente o pedido. A Constituição prevê que, para que um processo de impeachment contra um ministro do STF avance, é necessária a aprovação da maioria simples dos senadores — 41 dos 81 votos — em votação em plenário.
No entanto, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), foi enfático ao afirmar, nesta quinta-feira (7), que não pautará o pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes. “Nem se tiver 81 assinaturas”, declarou.
A decisão de Alcolumbre esvazia a ofensiva da oposição e evidencia o isolamento político do bolsonarismo no Congresso, especialmente no Senado, onde partidos do chamado "centrão" têm evitado embates diretos com o STF.
O embate entre Ciro Nogueira e Silas Malafaia ilustra as tensões internas entre políticos tradicionais e lideranças evangélicas, que têm buscado cada vez mais protagonismo nas decisões de Brasília. Malafaia, figura central no bolsonarismo religioso, tem pressionado senadores e deputados a tomarem posições alinhadas aos interesses do ex-presidente e seus apoiadores mais radicais.
Ciro, por outro lado, representa um setor mais moderado e pragmático da direita, que prefere atuar dentro das margens institucionais e evita embates frontais com o Judiciário. A resposta do senador à crítica do pastor também evidencia o desconforto de parte da classe política com a crescente influência de líderes religiosos no debate público.
A crise envolvendo o STF, o Senado e o bolsonarismo segue produzindo fraturas dentro da oposição, que agora precisa lidar com a dificuldade de manter uma frente unificada. Enquanto setores mais radicais exigem confrontos diretos com os ministros do Supremo, líderes partidários e senadores optam por uma linha institucional mais cautelosa, temendo o desgaste político e a ineficácia das medidas propostas.
No caso específico do impeachment de Alexandre de Moraes, mesmo senadores críticos ao ministro reconhecem que o movimento não tem chances reais de prosperar, e que insistir na pauta pode apenas fortalecer o discurso de judicialização da política.
