
Em sua primeira aparição pública após retornar oficialmente ao PSDB, Ciro Gomes fez críticas diretas ao PDT — seu antigo partido — e voltou a defender a construção de uma frente política de centro-esquerda. O ex-ministro e ex-governador do Ceará afirmou, na terça-feira (28), que o Brasil precisa de um novo projeto político “que una sindicatos e empresários do agronegócio, ao contrário do sectarismo que está aí”.
“Tenho muita vontade de ajudar a construir um movimento baseado em projetos. Seria o que chamamos de centro, centro-esquerda, que é a cara do Brasil”, disse Ciro, antes de participar de um evento promovido pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Aracaju, em Sergipe.
Segundo o político cearense, o PDT — partido que o lançou à Presidência nas últimas quatro eleições — “sucumbiu aos encantos do PT” e perdeu sua identidade. “Virou puxadinho, o que não posso suportar”, criticou, reforçando seu rompimento com a legenda que comandou por mais de uma década.
Retorno ao PSDB e cenário para 2026 - Ciro Gomes formalizou seu retorno ao PSDB no dia 22 de outubro. A filiação é vista internamente como parte de uma estratégia tucana para retomar protagonismo no Ceará, onde o partido já foi forte, mas perdeu espaço nas últimas eleições. Foi pelo PSDB que Ciro se elegeu governador do Estado em 1990.
Apesar de ter afirmado, em setembro, que não pretende mais disputar a Presidência da República — após quatro derrotas consecutivas —, o nome de Ciro ainda é considerado relevante para o partido em disputas nacionais. O presidente do PSDB, Marconi Perillo, afirmou que não descarta a possibilidade de candidatura presidencial, mesmo que o tema ainda não tenha sido discutido com o ex-governador.
“Seria desconhecer os fatos se não falássemos da importância que o Ciro tem nacionalmente”, declarou Perillo.
Durante o evento em Aracaju, Ciro evitou confirmar se será candidato ao governo do Ceará em 2026, mas deixou clara sua intenção de atuar politicamente no Estado. Ao comentar sobre a atual gestão do governador Elmano de Freitas (PT), Ciro fez duras críticas e acenou para uma possível oposição unificada.
“O tempo da libertação se aproxima”, afirmou. “Morro pelo Brasil, mas mato pelo Ceará”, disse em tom provocativo, reforçando sua disposição de retomar protagonismo na política cearense.
A expectativa dentro do PSDB é que Ciro ajude a articular uma frente contra o atual governo estadual petista, reunindo setores mais amplos do espectro político, além das bases tradicionais da esquerda. Segundo interlocutores, o objetivo seria resgatar o eleitorado perdido e reconstruir alianças locais, com foco na eleição de deputados e no eventual enfrentamento ao PT nas urnas.
Entre a descrença eleitoral e o compromisso político - Mesmo com o histórico de derrotas presidenciais — em 1998, 2002, 2018 e 2022 —, Ciro afirma que sua permanência na vida pública está atrelada a um “compromisso de responsabilidade” com o país e, principalmente, com seu Estado natal.
“Não quero mais ser candidato, não. Não quero mais importunar os eleitores”, declarou em setembro. Porém, sua fala mais recente reacende a possibilidade de que, ao menos no plano estadual, Ciro volte a disputar cargos eletivos.
O PSDB, por sua vez, aposta em sua figura para reanimar a legenda em um cenário de fragmentação política, apostando em sua capacidade de articulação e no capital político que ainda possui no Ceará.
