
Na Câmara Municipal, o deputado federal Marcos Pollon assumiu o microfone com um discurso sem rodeios. O alvo: CCR MS VIA, a concessionária responsável pela BR-163 em Mato Grosso do Sul. A acusação: negligência, descumprimento de contrato e, mais grave, contribuição indireta para mortes que poderiam ser evitadas.

“Eu já paguei pela duplicação, nós já pagamos — e pagamos caro. Então cadê?”, disparou o parlamentar, ecoando o sentimento de milhares de motoristas que percorrem diariamente a rodovia. A BR-163 corta o Estado e passa por 21 municípios, onde trechos sem duplicação continuam registrando acidentes fatais. Só em 2023, foram 785 acidentes e 63 mortes. A maioria, segundo estatísticas, aconteceu justamente onde se esperava algum tipo de obra.
Pollon foi direto: quer articular um consórcio de Câmaras Municipais e Prefeituras para lidar exclusivamente com o tema. Um grupo político para propor medidas executivas e legislativas. “O povo não tem que pedir, o povo exige.”, disse ele, em tom de urgência.
A inspiração vem do vizinho Mato Grosso, onde o Governo Estadual assumiu a rodovia BR-163 após o colapso da “Rota do Oeste”. Lá, a empresa MTPar, de economia mista, cuida agora da duplicação de 335 quilômetros, abrangendo 19 cidades. No MS, a extensão e o problema são ainda maiores.
Além da inação, há obstáculos burocráticos. Pollon contou que tentou viabilizar emendas parlamentares para obras dentro de municípios, mas a presença da concessionária impede intervenções locais, mesmo que vidas estejam em risco. “A bancada federal fica de mãos atadas”, lamentou. E arrematou: “Não posso colocar a culpa em ninguém. A culpa é da CCR MS VIA, sim!”
O deputado ainda evocou o conceito jurídico de “nexo de causalidade” — a ligação direta entre um fato e sua consequência. Para ele, há uma relação clara entre a negligência da empresa e o número de mortos na rodovia. A BR-163, que deveria ser símbolo de integração nacional, virou metáfora de promessas paradas no acostamento.
