
Na manhã desta terça-feira (30 de dezembro), um ofício saiu da Câmara Municipal de Campo Grande com destino ao gabinete da prefeita Adriane Barbosa Nogueira Lopes. O documento, formal no tom e direto no conteúdo, pedia algo simples de dizer e difícil de explicar: como a Prefeitura chegou aos novos valores do IPTU de 2026 e por que decidiu reduzir o desconto para quem paga o imposto à vista.
Assinado pelo presidente da Câmara, o vereador Epaminondas Vicente Silva Neto, o Papy, o ofício cobra esclarecimentos detalhados sobre a metodologia usada no cálculo do imposto. O texto pede que a Prefeitura apresente critérios técnicos, legais e econômicos, além dos parâmetros adotados, estudos eventualmente realizados, a base legal das decisões e as justificativas administrativas que sustentaram as mudanças.

Ofício enviado pela Câmara Municipal de Campo Grande à prefeita Adriane Lopes solicita explicações detalhadas sobre o cálculo do IPTU 2026 e a redução do desconto para pagamento à vista.
O pedido não surgiu do nada. Nos últimos dias, vereadores passaram a receber mensagens, visitas e relatos de moradores assustados com os valores dos carnês. Embora o reajuste oficial do IPTU tenha sido de 5,32%, índice baseado no IPCA-E, muitos contribuintes relataram aumentos bem acima disso, em alguns casos chegando a 200%, 396% ou mais.
Segundo a Prefeitura, essas variações aconteceram por causa de atualizações cadastrais, revisões na planta genérica de valores e melhorias no entorno dos imóveis. Na prática, porém, a explicação técnica não foi suficiente para acalmar quem abriu o boleto e viu números muito diferentes dos anos anteriores.
O ofício deixa claro que a Câmara quer entender não apenas os cálculos, mas também os impactos concretos dessas decisões na vida da população. Por isso, o texto destaca a necessidade de informações claras e acessíveis, capazes de explicar como o imposto foi reajustado e por que o desconto para pagamento à vista caiu de 20%, percentual aplicado em anos anteriores, para 10% em 2026.
Essa redução do desconto é apontada pelos vereadores como um dos pontos mais sensíveis do novo IPTU. Para muitos moradores, pagar à vista sempre foi uma forma de aliviar o orçamento. Com o abatimento menor, o peso do imposto aumentou, especialmente em casos de imóveis que já sofreram reajustes elevados.
Há relatos de aumentos de 31%, 41% e 45%, além de cobranças superiores a R$ 500 em terrenos sem infraestrutura básica, como asfalto ou segurança. Essas situações chegaram à Câmara por meio das redes sociais e de contatos diretos com os parlamentares, o que ajudou a dar urgência ao envio do ofício.
No documento, a Câmara também reforça seu papel fiscalizador. A Casa lembra que não participou de nenhuma discussão ou deliberação sobre os novos critérios do IPTU. Segundo nota oficial divulgada no mesmo dia, o Legislativo não foi consultado sobre base de cálculo, atualização de valores ou redução do desconto, decisões que ficaram restritas ao Executivo.
Atualmente composta por 29 vereadores, a Câmara vive a 12ª Legislatura e tem, entre suas atribuições históricas, acompanhar medidas que afetam diretamente o bolso da população. Não é a primeira vez que o IPTU entra nesse radar. Ao longo dos últimos anos, o imposto foi tema recorrente de debates, audiências públicas e questionamentos formais.
Em 2025, o reajuste foi de 4,12%. Em 2023, revisões no valor venal de imóveis provocaram aumentos de até 130% em alguns bairros. Em 2022, a alta foi de 7,9%. Já em 2021, um reajuste de 10,5% chegou a ser anunciado, mas acabou congelado após reação da sociedade.
No caso do IPTU de 2026, a Prefeitura afirma que o desconto de 10% ainda está acima da média nacional. Também informou que a previsão de arrecadação com o imposto varia entre R$ 950 milhões e R$ 1 bilhão, valor considerado essencial para o orçamento do município.
Para os contribuintes que discordarem do valor lançado, a orientação é buscar contestação administrativa até o dia 10 de março de 2026, por meio do site do IPTU ou dos canais da Secretaria Municipal da Fazenda.


