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POLÍTICA

Câmara aprova punição mais dura para deputados que impedirem sessões com protestos físicos

Proposta prevê suspensão de até seis meses para parlamentares que bloquearem ou atrapalharem fisicamente os trabalhos no plenário

19 agosto 2025 - 21h30Levy Teles
Motta precisou de dois dias para recuperar a cadeira da presidência da Câmara, tomada por bolsonaristas em protesto.
Motta precisou de dois dias para recuperar a cadeira da presidência da Câmara, tomada por bolsonaristas em protesto. - (Foto: Wilton Junior/Estadão)

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira, 19 de agosto, um requerimento de urgência que acelera a tramitação de uma proposta que endurece as punições para deputados que tentem impedir fisicamente os trabalhos legislativos. A medida é uma resposta direta a recentes episódios de obstrução no plenário, como a ocupação da Mesa Diretora por parlamentares da oposição no início do mês.

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O projeto de resolução, elaborado pela própria Mesa Diretora da Câmara, prevê a suspensão do mandato por até seis meses para deputados que se envolvam em agressões físicas nas dependências da Casa ou que tentem impedir, por meios físicos ou abusivos, o andamento das atividades parlamentares.

A urgência da tramitação foi aprovada por 266 votos favoráveis, 114 contrários e uma abstenção. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), delegou ao primeiro-secretário, deputado Luciano Bivar (União-PE), a condução dos trabalhos relacionados à proposta.

Durante a votação, o presidente em exercício da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), defendeu a iniciativa como uma forma de preservar a integridade institucional do Parlamento. "Todos que participaram daquele momento sabem que episódios como aquele não podem e nem irão se repetir", afirmou. "Precisamos ser firmes com atitudes que ultrapassam o regimento da Casa. Se acontecer de novo, temos os meios para agir com rigor e dar um exemplo."

O que diz o texto da resolução

A proposta altera o Código de Ética e Decoro Parlamentar e estabelece que será passível de suspensão o parlamentar que:

  • Cometer agressão física nas dependências da Câmara;

  • Bloquear ou dificultar fisicamente o funcionamento das atividades legislativas, de maneira que ultrapasse os limites do exercício regular das prerrogativas regimentais.

A medida ainda deve passar por ajustes, principalmente após a solicitação do PL, que se mostrou contrário ao texto nos moldes atuais. A legenda, que lidera a oposição ao governo Lula, é a mais afetada pela medida, já que seus parlamentares estiveram diretamente envolvidos na recente tentativa de obstrução.

Reação das bancadas

Segundo o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), todos os líderes de bancada foram consultados sobre a inclusão da proposta na pauta do dia. Apenas o PL não se manifestou. "A decisão de levar adiante foi coletiva. Não sei se o debate sobre prerrogativas vai avançar nesse momento, mas é consenso que atitudes como as que vimos não podem se tornar rotina", disse o petista.

O PL, por sua vez, negocia modificações no texto e tenta adiar a votação definitiva da resolução. Ainda não há relator designado, o que deve ocorrer nos próximos dias, segundo o presidente da Câmara, Arthur Lira.

O episódio que motivou a proposta

O projeto de resolução surge após o episódio do dia 5 de agosto, quando deputados da ala bolsonarista ocuparam a Mesa Diretora da Câmara. A intenção era pressionar pela votação de propostas como a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro, o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o fim do foro privilegiado.

Os parlamentares se mantiveram nas cadeiras da Mesa ao longo do dia, impedindo a realização das sessões. A normalidade só foi retomada na noite do dia seguinte, quando o presidente da Casa conseguiu reassumir a condução dos trabalhos.

“Esse tipo de ação não fortalece a democracia nem respeita as regras da Casa. A oposição tem todo o direito de se manifestar, mas dentro dos limites do regimento”, afirmou Lira durante a reabertura da sessão.

Tramitação segue com alterações à vista

Apesar da aprovação da urgência, o texto ainda deve ser submetido a uma nova rodada de discussões, já que há expectativa de mudanças para acomodar sugestões do PL. Só após essas eventuais alterações a proposta será levada ao plenário para votação final.

A sinalização da Mesa Diretora, no entanto, é de que a Câmara está disposta a endurecer as regras e estabelecer punições claras para atos que comprometam o funcionamento da instituição.

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