
A cena é conhecida em Campo Grande. Rua de chão batido, poça que vira lago, carro desviando de buraco como quem procura um caminho entre pequenas armadilhas. Nesta terça-feira, dia 9, a Câmara Municipal deu um passo para mudar esse roteiro, ao aprovar dois projetos que autorizam a prefeitura a contratar empréstimos que somam R$ 156 milhões junto à Caixa Econômica Federal.
O dinheiro, segundo os textos aprovados, será usado em obras de pavimentação, drenagem de águas pluviais e requalificação de vias. Também entram na lista calçadas com acessibilidade, sinalização e medidas de moderação do tráfego, além de adequações em ruas que fazem parte do itinerário do transporte coletivo.
A aprovação é apresentada como a primeira etapa de um pacote maior. A prefeitura afirma que, depois de ser habilitada pela Secretaria do Tesouro Nacional no Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal, o chamado PEF, ganhou caminho para contratar operações de crédito com garantia da União. Em resumo, uma porta que costuma estar trancada para cidades com finanças apertadas passa a abrir, desde que as regras sejam seguidas.
O principal projeto aprovado foi o de número 12.185/25, que libera R$ 136.099.957,27. Esse valor é enquadrado no programa Avançar Cidades, na linha Mobilidade Urbana. Na prática, é o grosso do dinheiro para as obras de asfalto e drenagem, com uma lista de melhorias que tenta colocar a rua em um padrão mais completo, e não só cobrir o chão de preto.
O segundo projeto, o 12.184/25, autoriza mais R$ 20 milhões. O texto fala em pavimentação, drenagem e requalificação de vias, e também em investimentos em serviços públicos em áreas como educação, saúde, cultura, esporte, lazer e assistência social.
A prefeitura diz que cumpre as exigências previstas na Lei Complementar 178/2021, que trata do programa de equilíbrio fiscal. Também afirma que a autorização da Câmara é uma etapa obrigatória para que a Caixa e a Secretaria do Tesouro Nacional possam formalizar os contratos.
No discurso do Executivo, a cidade carrega um déficit antigo de infraestrutura. A aposta é que os recursos ajudem a modernizar a malha viária, ampliar a drenagem e reduzir pontos de alagamento. A previsão é lançar as primeiras licitações ainda neste ano, para que as obras comecem no primeiro trimestre de 2026.
O tamanho do plano aparece quando se olha para o pacote maior já anunciado, de R$ 544 milhões, que prevê levar asfalto a 33 bairros. Entre eles estão Noroeste, Vilas Boas, Los Angeles, Aero Rancho, Guanandi II, Tarumã, Coophavilla II, Batistão, São Conrado, Jardim Auxiliadora, Vila Nogueira, Jardim das Nações, Oliveira, Anhembi, Nova Tiradentes, Porto Galo, Jardim Vitória, Vila Amapá, Santa Emília, Parque dos Girassóis e Residencial Flores.

Infográfico resume o maior pacote de infraestrutura já planejado para Campo Grande.
A votação teve defesa e teve atrito. O presidente da Câmara, Epaminondas Neto, do Solidariedade, conhecido como Papy, afirmou que a autorização ajuda a melhorar a nota da Capag, que é a avaliação da capacidade de pagamento do município. Para ele, isso destrava novos investimentos. Papy disse que os vereadores são cobrados pelos moradores e que a falta de infraestrutura é uma das principais reclamações. “Os projetos tratam de investimentos para asfalto em Campo Grande, uma solicitação dos moradores. A Câmara contribui para que o município saia dessa situação difícil, tanto pela crise financeira quanto pela falta de infraestrutura. Andamos pela cidade e vemos muitos bairros desassistidos e abandonados”, afirmou.
A oposição, porém, não comprou o pacote inteiro. A vereadora Luiza Ribeiro, do PT, disse que não confia na gestão da prefeita Adriane Lopes para executar novos investimentos. “Da minha parte, eu não vou confiar à prefeita mais nenhum centavo. Hoje tem muito dinheiro no cofre, enviado pelo Governo Federal, para concluir as obras de educação nos Ceinfs, e elas não foram finalizadas. Também falta concluir a obra na Avenida Ernesto Geisel, que continua inacabada. Não se termina nada. Depois, vamos analisar se a prefeitura merece ou não ter direito a tomar empréstimo, ainda mais diante dos últimos indicadores, que mostram uma desorganização fiscal da administração”, declarou.
Marcos Trad, do PDT, também votou contra. Ele criticou a falta de detalhamento nos projetos e disse que informações apresentadas em plenário não estavam nos documentos oficiais enviados à Câmara. Ele ainda mencionou a rejeição de uma emenda do vereador Júnior Coringa, do MDB, que incluía o bairro Nova Jerusalém entre as áreas beneficiadas. “O projeto que estamos avaliando é incompleto. As informações citadas em plenário não existem dentro do texto. Eu acredito nelas em razão da confiança, mas não pela forma como vieram. Eu vou votar contra, esperando que, de fato, esses valores sejam aplicados nesse lugar. E só espero que a emenda do vereador, que recebeu a minha solidariedade, venha sendo reprovada”, disse.
Com a aprovação, a prefeitura pode avançar nos trâmites finais junto à Caixa e à Secretaria do Tesouro Nacional. A estimativa citada é que a primeira parcela, de R$ 136 milhões, seja liberada ainda neste ano. Isso abre a fase de licitações e reforça o argumento do Executivo de que se trata do maior pacote de pavimentação já planejado para Campo Grande.
A prefeita Adriane Lopes está em Brasília para oficializar a adesão ao Programa de Acompanhamento e Transparência Fiscal e ao Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal, etapas vistas como essenciais para melhorar a nota de Capag e reduzir juros das operações de crédito. A informação foi confirmada pelo vereador Beto Avelar, do PP, líder da prefeitura na Câmara. Ele disse que Adriane viajou acompanhada da secretária especial de Planejamento e Parcerias Estratégicas, Catiana Sabadin, e deve se reunir ainda nesta terça-feira com a ministra do Planejamento, Simone Tebet.


