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15 de dezembro de 2025 - 09h32
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POLÍTICA

Debate político perde espaço no WhatsApp e maioria evita opinar para não gerar conflitos

Estudo aponta queda no compartilhamento de política em grupos e revela medo de se posicionar em ambientes considerados agressivos

15 dezembro 2025 - 07h25
Discussões políticas têm perdido espaço em grupos de WhatsApp, onde usuários evitam se posicionar para fugir de conflitos
Discussões políticas têm perdido espaço em grupos de WhatsApp, onde usuários evitam se posicionar para fugir de conflitos - (Foto: Marcello Casal Jr)

As conversas sobre política estão cada vez mais raras nos grupos de WhatsApp, especialmente entre familiares, amigos e colegas de trabalho. O motivo não é falta de interesse, mas o receio de conflitos. Mais da metade das pessoas que participam desses grupos dizem evitar emitir opinião política por medo de reações agressivas.

Canal WhatsApp

Os dados fazem parte do estudo “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens”, divulgado nesta segunda-feira (15) pelo InternetLab e pela Rede Conhecimento Social, instituições independentes e sem fins lucrativos.

A pesquisa mostra que o WhatsApp segue amplamente presente no cotidiano: 54% dos usuários participam de grupos de família, 53% de grupos de amigos e 38% de grupos de trabalho. Já os grupos voltados especificamente ao debate político representam apenas 6%, queda significativa em relação a 2020, quando eram 10%.

Entre 2021 e 2024, houve uma redução clara na circulação de conteúdos sobre política, políticos e governo nos grupos mais comuns da plataforma. Nos grupos de família, a proporção de pessoas que viam esse tipo de conteúdo com frequência caiu de 34% para 27%. Nos grupos de amigos, a queda foi ainda maior, de 38% para 24%. Já nos grupos de trabalho, o índice passou de 16% para 11%.

Relatos colhidos na pesquisa ajudam a explicar o movimento. Uma entrevistada de 50 anos, moradora de São Paulo, resume o clima atual: “Evitamos falar sobre política. Todo mundo tenta ter bom senso para não misturar as coisas”.

O levantamento identificou que 56% dos entrevistados têm medo de expressar opinião política, por avaliarem que o ambiente se tornou hostil. Esse sentimento aparece de forma transversal entre diferentes visões ideológicas: 63% entre pessoas que se dizem de esquerda, 66% de centro e 61% de direita.

Segundo os entrevistados, o debate deixou de ser troca de ideias e passou a ser confronto. “Às vezes você fala alguma coisa e o pessoal já quer brigar”, relata uma mulher de 36 anos, de Pernambuco.

Como resposta, muitos usuários passaram a se autorregular. Os dados indicam que 52% dizem se policiar cada vez mais sobre o que compartilham, enquanto 50% evitam falar de política em grupos de família para fugir de discussões. Além disso, 65% afirmam evitar mensagens que possam ferir valores de outras pessoas.

O desconforto levou 29% dos entrevistados a deixarem grupos onde não se sentiam à vontade para expressar opinião política. “Muita briga, muita discussão, propaganda política”, resume uma das entrevistadas.

Ainda assim, o estudo mostra que nem todos se silenciam. Cerca de 12% afirmam compartilhar conteúdos que consideram importantes, mesmo sabendo que podem gerar desconforto. Outros 18% dizem defender suas ideias mesmo quando isso soa ofensivo.

Entre os 44% que se sentem seguros para falar de política, algumas estratégias são comuns:

  • 30% usam humor para abordar o tema sem provocar atritos;
  • 34% preferem conversas privadas, fora dos grupos;
  • 29% discutem política apenas em grupos alinhados ideologicamente.

Para a diretora do InternetLab e uma das autoras do estudo, Heloisa Massaro, o comportamento indica um processo de adaptação. Segundo ela, o WhatsApp já está incorporado à vida cotidiana, e a política segue presente, mas sob novas regras informais de convivência.

“O que a gente observa é um amadurecimento. As pessoas foram desenvolvendo normas próprias para lidar com a comunicação política nos grupos”, explica. O estudo é realizado anualmente desde o fim de 2020 e aponta a consolidação de uma ética coletiva para evitar conflitos, especialmente em ambientes familiares e profissionais.

O levantamento ouviu 3.113 pessoas com 16 anos ou mais, de todas as regiões do país, entre 20 de novembro e 10 de dezembro de 2024. O estudo teve apoio financeiro do WhatsApp, mas, segundo o InternetLab, sem qualquer interferência da empresa nos resultados.

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