
Mais do que uma medida de contenção, a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes neste sábado (22), foi sustentada por um conjunto de indícios que, segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), apontam para uma tentativa de fuga, articulação política para tumultuar o país e o descumprimento de medidas cautelares — incluindo a violação da tornozeleira eletrônica.
A decisão, que determinou a ida de Bolsonaro para a carceragem da Polícia Federal em Brasília, expõe que o monitoramento eletrônico foi rompido à 0h08 do próprio sábado, horas antes da chegada dos agentes federais ao condomínio onde o ex-presidente residia. O alerta foi emitido pelo sistema de vigilância do Distrito Federal e reforçou, para o STF, a suspeita de que o ex-mandatário tentava escapar da prisão.
Cenário de fuga e articulação política - Moraes sustentou que, diante do iminente trânsito em julgado da condenação por tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro articulava uma fuga semelhante à de aliados investigados no mesmo inquérito — como o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que está nos Estados Unidos, e a deputada Carla Zambelli (PL-SP), que também viajou ao exterior. O ministro lembrou ainda que o ex-presidente já havia considerado pedir asilo à embaixada da Argentina e que reside a apenas 13 km da Embaixada dos Estados Unidos, em Brasília.
A convocação de uma vigília na porta de seu condomínio, impulsionada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foi citada como parte de uma estratégia para causar confusão, mobilizar apoiadores e dificultar o cumprimento da prisão. Moraes tratou a movimentação como repetição do “modus operandi” utilizado antes dos atos golpistas de 8 de janeiro.
Cancelamento de visitas e restrição de contatos - Outra decisão tomada neste sábado foi o cancelamento de todas as visitas que haviam sido autorizadas quando Bolsonaro ainda estava em prisão domiciliar. Entre os nomes suspensos estavam os governadores Cláudio Castro (PL-RJ), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), além do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.
A partir de agora, só poderão ter contato com o ex-presidente seus advogados e a equipe médica responsável pelo seu acompanhamento.
A decisão judicial também chama atenção pelo tom direto adotado por Moraes ao se referir aos filhos de Bolsonaro. Ele afirma que Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Flávio Bolsonaro agiram para “causar caos social”, ignorando a responsabilidade dos cargos que ocupam no Legislativo.
Moraes afirmou que “não há limites” para a atuação da “organização criminosa” da qual Bolsonaro faria parte, classificando a mobilização recente como uma tentativa “patética” de repetir estratégias de insurreição.
Com a prisão preventiva decretada, Bolsonaro permanece detido por tempo indeterminado até nova decisão judicial. A defesa ainda não se pronunciou oficialmente sobre os novos elementos apontados pelo STF, mas deverá apresentar pedido de revogação da prisão nos próximos dias.

