
O Banco do Brasil acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para pedir providências contra uma série de postagens com informações falsas que circulam nas redes sociais, apontadas como tentativa de gerar pânico financeiro entre os clientes da instituição. O caso ganhou repercussão após vídeo publicado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmar que o banco "será cortado das relações internacionais, o que o levará à falência".

A declaração, feita em vídeo postado no YouTube em 20 de agosto, insere-se num movimento orquestrado de desinformação nas redes, segundo documento encaminhado pelo Banco do Brasil à AGU. O vídeo, junto a outras publicações feitas no X (antigo Twitter), Instagram, Threads e no próprio YouTube, tem gerado solicitações de esclarecimentos por parte de clientes preocupados com o futuro da instituição.
Em resposta, o banco classificou as declarações como difamatórias, falsas e perigosas, com potencial de provocar corrida bancária — quando grande número de correntistas tenta sacar seus recursos ao mesmo tempo, o que pode afetar gravemente a estabilidade financeira do país.
Falsa aplicação da Lei Magnitsky virou arma nas redes - O principal ponto de confusão gira em torno da Lei Magnitsky, legislação norte-americana usada para impor sanções internacionais a pessoas envolvidas em violações de direitos humanos. Recentemente, a medida foi aplicada contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o que levou o Banco do Brasil a cancelar seu cartão internacional de bandeira Mastercard e substituí-lo por um cartão da bandeira nacional Elo, da qual o próprio BB é um dos acionistas.
Essa ação gerou interpretações distorcidas nas redes, sugerindo, falsamente, que o Banco do Brasil estaria sofrendo sanções e, por isso, estaria à beira da falência. “O cenário de risco é que, do dia para noite, surgem especialistas em Lei Magnitsky formados em redes sociais, que recomendam a retirada de recursos de bancos brasileiros”, afirma o BB no ofício.
A instituição ainda alertou que esse tipo de desinformação coloca em risco a economia nacional, gera instabilidade entre os clientes e viola princípios do Estado Democrático de Direito e do Sistema Financeiro Nacional.
Nomes citados e ausência de resposta - Além de Eduardo Bolsonaro, o banco citou outros autores de postagens, como o também deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e o advogado Jeffrey Chiquini, defensor do ex-assessor da presidência Filipe Martins, figura próxima do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo o banco, as postagens destes indivíduos “colocam em xeque a soberania nacional” e devem ser avaliadas juridicamente pela AGU.
Até o momento, Eduardo Bolsonaro não respondeu aos questionamentos da imprensa. A denúncia feita pelo Banco do Brasil foi inicialmente revelada pela Folha de S.Paulo e confirmada pelo Estadão/Broadcast.
Governo responsabiliza bolsonaristas pela campanha - Ministros do governo federal se pronunciaram neste sábado (23) e atribuem a onda de desinformação a aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, trata-se de uma estratégia coordenada para atacar instituições públicas e criar clima de instabilidade política e econômica.
A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, também se manifestou publicamente no dia 20, durante um evento, lamentando a disseminação de informações falsas, embora não tenha citado nomes diretamente. “Essa nova estratégia consiste em coagir, ameaçar e colocar instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional, notadamente o Banco do Brasil, contra o Supremo Tribunal Federal”, diz trecho do ofício.
AGU pode acionar a Justiça - Com base na denúncia do BB, a AGU deverá avaliar possíveis medidas judiciais contra os envolvidos, incluindo ações por crimes como difamação, violação de sigilo bancário, e incitação à desordem financeira, além de crimes contra o Estado Democrático de Direito e a soberania nacional.
O banco também considera que o conteúdo publicado pode configurar grave ameaça à segurança do Sistema Financeiro Nacional, sobretudo por partir de pessoas com grande alcance e influência nas redes sociais.
Corrida bancária como risco real - Historicamente, a corrida bancária é um fenômeno extremamente sensível, que pode causar colapso em instituições financeiras sólidas devido à desconfiança momentânea dos clientes. Quando instigada por desinformação, essa reação em cadeia tem impacto direto sobre a estabilidade econômica de um país.
O alerta do BB à AGU não apenas busca responsabilizar os autores das postagens, mas também evitar que campanhas semelhantes se repitam no futuro, fragilizando a imagem de instituições estatais perante a população e o mercado financeiro.
