
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, avaliou nesta sexta-feira (26) que a pacificação política do País deve ocorrer de forma gradual, mas somente após a conclusão dos julgamentos relacionados à tentativa de golpe e aos atos de 8 de Janeiro. O ministro deixa a presidência do STF na próxima segunda-feira (29), após dois anos no cargo.

“Eu gostaria de ter sido a pessoa que pudesse ter feito resgate maior da civilidade. Eu achava que seria possível, mas julgamentos do 8 de Janeiro e do golpe dificultaram muito criar esse ambiente de pacificação, porque quem está sendo preso vai querer briga, não pacificação”, disse Barroso, em conversa com jornalistas.
Crise com os Estados Unidos
O ministro também comentou sobre as sanções impostas pelos Estados Unidos a autoridades brasileiras, no âmbito da Lei Magnitsky, após o julgamento que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A medida afetou o ministro Alexandre de Moraes, sua esposa e outros nomes da Corte, além de provocar turbulências no mercado financeiro brasileiro.
Barroso afirmou acreditar que a crise “vai desescalar” e sugeriu ao governo brasileiro a contratação de um escritório de lobby nos EUA para desfazer o que chamou de narrativa falsa. “A narrativa que prevaleceu foi a de quem tentou dar um golpe e não conseguiu”, declarou.
Ele relatou ainda uma breve conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a posse da nova gestão do TST, na quinta-feira (25). Segundo Barroso, Lula parecia “otimista e cauteloso” após seu primeiro encontro direto com Donald Trump, em Nova York.
Futuro e possíveis planos
Barroso negou qualquer intenção imediata de deixar o STF, embora rumores apontem que ele poderia antecipar sua aposentadoria, prevista para 2033. O ministro revelou que já trabalha na escrita de um livro de memórias, além de ter recebido convites de universidades como Princeton e Johns Hopkins para palestras e visitas acadêmicas.
“Vou contar como vi a vida. Espero sair do radar quando deixar a presidência”, disse.
Impeachment de ministros
O presidente do STF também abordou as recentes ações que questionam o rito de processos de impeachment de ministros da Corte, propostas pelo partido Solidariedade e pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB).
Para Barroso, qualquer processo desse tipo precisa ter fundamento jurídico. “Processos de crime de responsabilidade têm tipificação constitucional, qualquer processo de impeachment é passível de controle”, ressaltou.
O ministro disse ainda que é contra o uso do impeachment como instrumento político: “Fui contra o impeachment do ex-presidente (Bolsonaro). Impeachments sempre são prejudiciais para a estabilidade institucional”.
