
Durante palestra no Senado, o escritor e cientista político norte-americano Steven Levitsky, autor do best-seller Como as Democracias Morrem, apontou uma "ironia" nas ações do governo de Donald Trump contra o Brasil. Levitsky comentou que os EUA estão "punindo o Brasil por fazer o que os americanos deveriam ter feito", fazendo referência à ação penal que coloca o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentar um golpe de Estado após perder as eleições de 2022. O episódio culminou na invasão dos prédios dos Três Poderes em Brasília, em janeiro de 2023, situação que muitos comparam à invasão do Capitólio em Washington, em 2021, após a derrota de Trump nas urnas.

Levitsky, que participou de um seminário em Brasília nesta terça-feira (12), destacou a "vergonha" que sente como cidadão americano diante da postura dos EUA, que impuseram tarifas punitivas e abriram investigações comerciais contra o Brasil em troca do encerramento da investigação contra Bolsonaro. O cientista político criticou ainda o fato de Trump não ter sido responsabilizado pelos eventos de 2021.
Levitsky fez um paralelo entre as reações institucionais nos dois países diante das tentativas de golpe. Ele destacou que, enquanto as instituições americanas falharam em punir Trump, no Brasil a Suprema Corte tem desempenhado um papel fundamental na defesa da democracia, responsabilizando Bolsonaro por suas ações golpistas.
"O que sobressai no caso do Brasil é a Suprema Corte. A Suprema Corte americana atrapalhou os esforços para parar Trump, já a brasileira está agressivamente tentando processar Bolsonaro. Essencialmente, eles são super-heróis que ficaram de pé defendendo a democracia", afirmou.
Levitsky reconheceu que o STF, ao agir de forma mais ativa em questões constitucionais, tem sido alvo de críticas, especialmente por legislar em temas que o Legislativo e o Executivo não trataram. No entanto, o cientista político defendeu a postura do Supremo, considerando-a como "a coisa certa" para defender a democracia nos últimos sete anos.
A palestra de Levitsky, que aconteceu em um momento tenso da política internacional, reforçou a importância da atuação das instituições para a preservação da democracia, especialmente em momentos de crise política.
